segunda-feira, 16 de março de 2009


16 de Março de 1974
Um golpe que serviu de ensaio ao 25 de Abril

MANUEL CARLOS FREIRE
O golpe das Caldas, na madrugada de 16 de Março de 1974 e que era suposto juntar diferentes unidades militares espalhadas pelo País, acabou por se limitar ao Regimento de Infantaria 5 (RI5), nas Caldas da Rainha.Embora ainda hoje persistam dúvidas (sobre as razões disso ter acontecido, é provável que as dificuldades de comunicação - agravadas pela prisão de cabecilhas do Movimento dos Capitães como o agora coronel Vasco Lourenço - tenham estado na origem dessa situação. Mas no RI5, onde coabitavam diferentes grupos de oficiais, não houve hesitações. O próprio comandante, recém-chegado à unidade, já tinha sido avisado que haveria barulho se os generais Costa Gomes e António de Spínola - heróis condecorados com a Ordem da Torre e Espada - fossem prejudicados."Nessa altura já estávamos juntos. Quem quer que desse a ordem de avançar, fosse puro [oriundo da Academia militar] ou espúrio [miliciano dos Quadros Permanentes], iríamos saltar", lembrou ontem ao DN o então capitão do RI5 Gonçalves Novo. Com a preparação do golpe dos capitães em marcha e acelerado com a prisão de Vasco Lourenço e outros oficiais na Trafaria, seria o "beija-mão" dos oficiais generais das Forças Armadas a Marcelo Caetano e a demissão de Costa Gomes e Spínola a fazer sair a coluna militar do RI5 cerca das 02.00 daquele sábado. "Foi despoletado antes do tempo, mas serviu como balão de ensaio" para o 25 de Abril, observou Vasco Lourenço. "Marchámos sozinhos", frisou Gonçalves Novo, "com a missão de tomar o aeroporto e a rotunda da Encarnação [também chamada do Relógio] e desencadear o golpe. Não era uma acção isolada" e até "houve outras movimentações", mas as outras unidades militares acabaram por ficar nos quartéis, referiu o coronel. "Fomos parados a uns cinco quilómetros de Lisboa" por Manuel Monge - um dos principais spínolistas - e Casanova Ferreira. Estes oficiais, disse Vasco Lourenço, foram para as Caldas e contaram-se entre os 200 militares que acabaram depois presos.Marcelo Caetano, nas vésperas de ser derrubado, falou sobre a "irreflexão dos oficiais que se lançaram na aventura" de se dirigir a Lisboa: "Irreflexão por não considerarem que, em tempo de guerra subversiva, toda a manifestação de indisciplina assume particular gravidade. Irreflexão por não terem em conta que há manobradores políticos, cá dentro e lá fora, prontos a explorar todos os episódios de que possam tirar partido para cavar dissenções internas e minar os alicerces do Estado e fazer beneficiar interesses do estrangeiro."

Sem comentários: