quarta-feira, 18 de março de 2009

Junta e pais sentem-se ignorados
A comunidade cigana está revoltada com o tratamento que considera discriminatório. A DREN reconhece a discriminação, mas diz ser... positiva.
(JN)18.3.2009NUNO PASSOS, COM PEDRO VILA-CHÃ
A colocação de 17 crianças de etnia cigana, numa turma de alunos entre os 9 e os 19 anos, a funcionar num contentor, está a desencadear reacções dos mais variados quadrantes. A oposição exige uma explicação à ministra.
O alegado protocolo a que aludiu Margarida Moreira, directora da DREN, não caíu bem em Barqueiros, Barcelos. Quer a Junta de Freguesia quer os encarregados de educação da EB1 de Lagoa Negra dizem que não foram "tidos nem achados" na decisão do Agrupamento Escolar Abel Varzim isolar este ano lectivo 17 crianças de etnia cigana, dos 9 a 18 anos, num pré-fabricado no recreio. Este projecto de educação especial foi pensado para integrar as crianças no sistema de ensino, pois não frequentavam a escola.
A DREN alega que o plano visa a discriminação positiva e a turma é uma medida provisória, podendo "a todo o tempo" os alunos transitar em definitivo para turmas regulares. O PSD, PCP e BE pediram à ministra da Educação, Lurdes Rodrigues, para explicar a decisão no Parlamento.
O secretário da Junta de Barqueiros, António Cardoso, foi ontem acusado de "hipocrisia" pelo presidente da Câmara de Barcelos, Fernando Reis, pois a autarquia foi chamada pela Junta a apoiar o projecto pedagógico. Aliás, meia centena de crianças daquela etnia estão noutras escolas do agrupamento "sem qualquer problema". A directora da DREN, Margarida Moreira, disse também à RTPN que a Junta apoiou a separação das crianças ciganas.
António Cardoso recusou as críticas. "Contactaram-nos com a opção já tomada. Mostrei desacordo, mas disponibilizei-me a apoiar. Demos pastas e escovas de dentes e medicamento contra piolhos. Ou a doutora Margarida prova que a Junta assinou algum protocolo ou diremos que mentiu aos portugueses", afirmou, recusando-se a partir de agora a reunir com aquela responsável. Sustentou igualmente que não se responsabiliza pelo que possa vir a ocorrer na escola básica.
Os deputados da oposição querem Lurdes Rodrigues no hemiciclo. "Da DREN estamos habituados a tomadas de decisões de carácter muito arbitrário", ironizou o social-democrata Pedro Duarte à TSF. "Como se pode achar que as crianças devam ter aulas em contentor, e exclusivamente as de etnia cigana?", argumentou o comunista António Filipe. Ana Drago notou que o modelo não privilegia a integração e quer "respostas claras" da ministra.
Por seu turno, a alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural notou que a concentração dos jovens ciganos foi acordada com os pais. "Parece tratar-se de um caso intermédio de integração. De futuro, o ideal é que as crianças se possam misturar; se for a solução imediata da escola temos de aceitá-la", referiu Rosário Farmhouse. O vice-presidente do Centro de Estudos Ciganos, Bruno Gonçalves, achou "intolerável" a referida turma de alunos estar separada.

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