"Assim deixam de ir à escola"
Contra a situação os mais velhos queixam-se da segregação, enquanto os mais novos não querem estar "ali enfiados"
(JN) 18.3.2009 NUNO PASSOS
"Tinha uma filha de 18 anos na EB 2, 3 Abel Varzim e, de repente, em Setembro foi obrigada a vir para a EB1 de Lagoa Negra, diziam que era por ter reprovado e ser cigana. Nem quis acreditar! E quando foi enfiada num contentor com outros ciganos, até de 8 anos, vi que só podia ser racismo."
Olívia Santos Silva dava esta terça-feira voz à revolta da sua comunidade, num dos dois acampamentos de Barqueiros, em Barcelos, que têm mais de 20 famílias. "A minha filha sentiu-se mal várias semanas, só chorava, não queria estudar, só queria as colegas da Abel Varzim e não estar com crianças que aprendem a ler", anuiu o pai Joaquim Monteiro. Olívia devolveu: "A continuar assim, elas (filhas) não irão para a escola, é uma vergonha. Têm que formar-se, ser algo na vida, e não é assim". Pausou e prosseguiu: "Nos últimos anos os professores fizeram um bom trabalho na integração, muitos de nós vamos ou fomos à escola. Mas agora está-se a andar muito para trás".
Maria dos Remédios Silva, com três filhos na Lagoa Negra, "nunca soube oficialmente de nada". "Não nos consultaram, soubemos pelos pequenos. Fez-se depois reuniões com pais, com a Junta. A escola disse que a solução era provisória caso não funcionasse, afinal...". O marido Miguel Monteiro foi mais longe. "Nas últimas décadas estudava-se em convívio de etnias, dava gosto ver. Agora, em vez de aprender desaprende-se. A ministra da Educação tem que falar sobre isto."
Já no acampamento das Andorinhas, também a cerca de dois quilómetros do estabelecimento de ensino, o encarregado de educação Manuel Silva denunciava o "forno" sentido pelas duas filhas no pré-fabricado da escola. "O ar condicionado está avariado e o calor não se aguenta com a chegada do Verão. Queria ver se punham as crianças ciganas dentro da escola antiga e vinha para o contentor uma das outras turmas. Olhe que os ciganos têm os mesmos direitos. Mudaram muito, têm casas e roupas decentes e são sociáveis". Carminda dizia ter vergonha de andar "na escola com os pequenos", enquanto Maria dos Remédios, de 19 anos, prefere a escola de Vila Seca, onde tem "muitos amigos".
quarta-feira, 18 de março de 2009
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