Mário Soares (DN) 16.3.2009
1 . Foi realmente uma megamanifestação a que a CGTP/IN levou a efeito, em Lisboa, no passado dia 13. É sabido que os manifestantes vieram de todo o País, em camionetas, especialmente fretadas, e que num dia ameno de sol não é desagradável uma visita à capital. Tanto mais que se tratava de gritar a indignação que sentem contra o desemprego, que sofrem na carne, a pobreza, a incerteza quanto ao futuro, dos próprios e dos filhos e netos, e das ostensivas - e não resolvidas - desigualdades sociais, que em vez de serem corrigidas se agravam.
1 . Foi realmente uma megamanifestação a que a CGTP/IN levou a efeito, em Lisboa, no passado dia 13. É sabido que os manifestantes vieram de todo o País, em camionetas, especialmente fretadas, e que num dia ameno de sol não é desagradável uma visita à capital. Tanto mais que se tratava de gritar a indignação que sentem contra o desemprego, que sofrem na carne, a pobreza, a incerteza quanto ao futuro, dos próprios e dos filhos e netos, e das ostensivas - e não resolvidas - desigualdades sociais, que em vez de serem corrigidas se agravam.
Claro que vivemos uma crise global, que está a afectar o mundo inteiro e que é injusto - embora fácil - apontar o dedo ao Governo Sócrates, como o responsável único das dificuldades que cada vez mais os portugueses sentem. Sobretudo quando as eleições se aproximam e, da esquerda à direita, há uma convergência, no imediato, para atacar o Governo, sem que se apresente qualquer alternativa, coerente ou sequer visível, para o substituir. Isto é: juntar-se-ia, tudo a continuar assim, à crise económica e financeira uma crise político-institucional, de difícil resolução, nos termos da Constituição que nos rege. Coisa que os nossos dirigentes políticos e sindicais parecem não pensar ou, se pensam, não exteriorizam uma tal preocupação.
A situação de crise que estamos colectivamente a viver é, obviamente, a mais difícil de todas as por que passámos, desde a Revolução dos Cravos. E tivemos bastantes. Aliás - atenção -, não terá solução fora do quadro comunitário. Isso aconselharia o Governo, penso, a ouvir com atenção e a ponderar a indignação das pessoas, que vai crescer, não tenhamos ilusões, e a debater o fenómeno, as suas causas e consequências, com os responsáveis dos partidos, em ambiente discreto e calmo, distante dos prélios parlamentares e televisivos habituais, que ocorrem regularmente e, em especial, com as direcções sindicais, que têm um conhecimento mais directo do que se passa no terreno e do que sentem as pessoas mais afectadas pela crise.
Não basta fazer uma viragem à esquerda no discurso político - que é, obviamente, importante e mesmo decisiva - para enfrentar a crise e a vencer. É preciso que o conhecimento da crise, nas suas causas e consequências, chegue às pessoas, aos trabalhadores desempregados, aos que estão desesperados com a falta de perspectivas e com os horizontes completamente fechados que se lhes apresentam e às suas famílias. Ouvi-los, repito, dar-lhes esperanças fundamentadas e mostrar-lhes como se lhes pode valer, a prazo. Se isso não ocorrer: mais diálogo, mais concertação social, mais ajudas concretas para tantos casos humanos dramáticos, tudo o resto que se diga ou faça - neste momento tão difícil - é completamente supérfluo e dispensável. Pondere-se nisto.
Por outro lado, ninguém parece ter sido responsável pela crise, embora se saiba que há quem está ainda agora a ganhar, especulativamente, com ela. Esse é outro ponto que as pessoas sentem, sobretudo as mais afectadas e que sabem serem-lhes devidas explicações, por quem de direito. A impunidade que parece cobrir os responsáveis e o sentimento de que as roubalheiras e a corrupção são vistas como uma fatalidade, sem remédio - que a justiça não actua, mas tudo se sabe ou julga saber por "fugas" sistemáticas que chegam aos meios de comunicação social e são difundidas sem explicação e, às vezes, por forma contraditória -, é um veneno que azeda as pessoas e as torna maldizentes, cínicas, desencantadas. Não é nada bom para o futuro da sociedade portuguesa.
Ora é ao Governo que compete definir o novo rumo e dar garantias para que não fique tudo na mesma...Uma megamanifestação não resolve nada. É certo. Mas alerta os responsáveis para o que tem de ser imperativamente resolvido. Não o esqueçamos! (...)
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