Vencer a crise
A crise não poderá ser vencida se os mesmos rostos do passado - os amigos e aliados de Bush - continuarem a governar a Europa, temendo as rupturas
(Visão) Quinta-feira, 5 de Mar de 2009
Portugal é um Estado-Nação que celebrou 689 anos de independência, dentro das mesmas fronteiras, que tem uma fortíssima identidade nacional e se orgulha da sua história. Libertou-se, sem qualquer ajuda externa, de uma longa e cruenta ditadura imobilista, sem efusão de sangue, graças à Revolução dos Cravos, como foi chamada. Foi uma revolução de sucesso, como hoje é consensual, que impressionou a Europa e o mundo, a partir da qual foi possível pôr fim às guerras coloniais, estabelecendo com os novos países independentes, excelentes relações de cooperação, de solidariedade e de defesa da língua comum, no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Entrou, depois, na CEE, hoje União Europeia, desenvolvendo-se, sem paralelo com o passado, no quadro de uma democracia pluralista e pluripartidária e estabelecendo relações de grande amizade e cooperação com a nossa vizinha Espanha. Recuperou de um atraso ancestral e conseguiu trazer à sua população sinais apreciáveis de bem-estar.
Contudo, Portugal está hoje confrontado com um problema que o ultrapassa - que veio de fora e atinge toda a Europa e o resto do mundo -, a crise global que nos afecta a todos. Uma crise duradoura que não é só financeira e económica, mas também energética, ambiental e, sobretudo, de valores morais.
Essa crise, para ser vencida, implica rupturas - como os Estados Unidos, que foram o epicentro da crise, foram também o primeiro país a reconhecer, elegendo um presidente, Barack Obama, que teve a coragem de dizer, no acto da sua posse, solenemente, que era preciso entrar numa "nova era para a vencer". Uma era que implica um regresso à Política, com P grande, aos grandes valores éticos que a devem impulsionar, e a um Estado forte capaz de intervir na economia e regulamentar o mercado.
Uma tal ruptura ainda não foi compreendida pela União Europeia, ou melhor: pelos seus actuais dirigentes. Têm-se multiplicado em reuniões envolvendo o "directório" dos grandes - como se isso bastasse e não colidisse fortemente com o princípio essencial da Comunidade: a absoluta igualdade de todos os Estados-membros, revelando, do mesmo passo, algum egoísmo, laivos de proteccionismo e a total incapacidade de se porem de acordo quanto a um plano concertado de ataque à crise. Os pequenos e médios países, em termos europeus, têm de reagir o mais depressa possível. Portugal deve-o fazer quanto antes e exigir uma ruptura, relativamente a um passado neoliberal que não deixou saudades.
As eleições europeias estão à porta. Devem provocar um grande debate - que envolva toda a população - e uma enorme mobilização reclamando a mudança indispensável para vencer a crise. Mudança, repito, que implica uma ruptura com o passado neoliberal, o respeito pelas pessoas, pelo trabalho, pela concertação social e pela natureza ameaçada.
Realmente a crise não poderá ser vencida, na Europa, se os mesmos rostos do passado - os amigos e aliados de Bush - continuarem a governar a Europa, temendo as rupturas, querendo poupar os amigos dos bancos e das grandes empresas e negociando os compromissos para que tudo fique na mesma. Se assim for, não haverá nas populações europeias entusiasmo nem mobilização para fazer avançar o projecto europeu. A Europa entrará em decadência ou talvez pior: poderá vir a desagregar-se. Portugal tem de estar muito atento e mobilizado nesta luta que irá necessariamente ocorrer. A nossa Democracia tem fragilidades que importa corrigir: a começar na vida interna dos partidos e dos sindicatos - onde é preciso mais abertura, participação e debate interno. Mas também nos domínios da Justiça - as fugas sistemáticas ao segredo de justiça são uma insuportável vergonha - e dos media, onde cada vez há menos jornalistas qualificados e independentes e mais "funcionários" ao serviço dos interesses que lhes pagam...
A crise não poderá ser vencida se os mesmos rostos do passado - os amigos e aliados de Bush - continuarem a governar a Europa, temendo as rupturas
(Visão) Quinta-feira, 5 de Mar de 2009
Portugal é um Estado-Nação que celebrou 689 anos de independência, dentro das mesmas fronteiras, que tem uma fortíssima identidade nacional e se orgulha da sua história. Libertou-se, sem qualquer ajuda externa, de uma longa e cruenta ditadura imobilista, sem efusão de sangue, graças à Revolução dos Cravos, como foi chamada. Foi uma revolução de sucesso, como hoje é consensual, que impressionou a Europa e o mundo, a partir da qual foi possível pôr fim às guerras coloniais, estabelecendo com os novos países independentes, excelentes relações de cooperação, de solidariedade e de defesa da língua comum, no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Entrou, depois, na CEE, hoje União Europeia, desenvolvendo-se, sem paralelo com o passado, no quadro de uma democracia pluralista e pluripartidária e estabelecendo relações de grande amizade e cooperação com a nossa vizinha Espanha. Recuperou de um atraso ancestral e conseguiu trazer à sua população sinais apreciáveis de bem-estar.
Contudo, Portugal está hoje confrontado com um problema que o ultrapassa - que veio de fora e atinge toda a Europa e o resto do mundo -, a crise global que nos afecta a todos. Uma crise duradoura que não é só financeira e económica, mas também energética, ambiental e, sobretudo, de valores morais.
Essa crise, para ser vencida, implica rupturas - como os Estados Unidos, que foram o epicentro da crise, foram também o primeiro país a reconhecer, elegendo um presidente, Barack Obama, que teve a coragem de dizer, no acto da sua posse, solenemente, que era preciso entrar numa "nova era para a vencer". Uma era que implica um regresso à Política, com P grande, aos grandes valores éticos que a devem impulsionar, e a um Estado forte capaz de intervir na economia e regulamentar o mercado.
Uma tal ruptura ainda não foi compreendida pela União Europeia, ou melhor: pelos seus actuais dirigentes. Têm-se multiplicado em reuniões envolvendo o "directório" dos grandes - como se isso bastasse e não colidisse fortemente com o princípio essencial da Comunidade: a absoluta igualdade de todos os Estados-membros, revelando, do mesmo passo, algum egoísmo, laivos de proteccionismo e a total incapacidade de se porem de acordo quanto a um plano concertado de ataque à crise. Os pequenos e médios países, em termos europeus, têm de reagir o mais depressa possível. Portugal deve-o fazer quanto antes e exigir uma ruptura, relativamente a um passado neoliberal que não deixou saudades.
As eleições europeias estão à porta. Devem provocar um grande debate - que envolva toda a população - e uma enorme mobilização reclamando a mudança indispensável para vencer a crise. Mudança, repito, que implica uma ruptura com o passado neoliberal, o respeito pelas pessoas, pelo trabalho, pela concertação social e pela natureza ameaçada.
Realmente a crise não poderá ser vencida, na Europa, se os mesmos rostos do passado - os amigos e aliados de Bush - continuarem a governar a Europa, temendo as rupturas, querendo poupar os amigos dos bancos e das grandes empresas e negociando os compromissos para que tudo fique na mesma. Se assim for, não haverá nas populações europeias entusiasmo nem mobilização para fazer avançar o projecto europeu. A Europa entrará em decadência ou talvez pior: poderá vir a desagregar-se. Portugal tem de estar muito atento e mobilizado nesta luta que irá necessariamente ocorrer. A nossa Democracia tem fragilidades que importa corrigir: a começar na vida interna dos partidos e dos sindicatos - onde é preciso mais abertura, participação e debate interno. Mas também nos domínios da Justiça - as fugas sistemáticas ao segredo de justiça são uma insuportável vergonha - e dos media, onde cada vez há menos jornalistas qualificados e independentes e mais "funcionários" ao serviço dos interesses que lhes pagam...
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