sábado, 14 de março de 2009

Manuel Alegre e José Sócrates voltam a conversar sobre as eleições legislativas na próxima semana
14.03.2009, Leonete Botelho
Corrente Opinião Socialista ou MIC podem ser a porta para entendimento eleitoral com o PS
Ou sim ou sopas. A próxima semana deve ser decisiva para um entendimento entre José Sócrates e Manuel Alegre com vista às próximas eleições legislativas. Depois de uma semana de fogo cruzado entre o histórico e vários dirigentes socialistas, com entrevistas e declarações que quase fizeram romper a corda entre as partes, nos próximos dias os dois protagonistas devem voltar a sentar--se à mesa para clarificar, de uma vez por todas, se há ou não margem para um acordo. Entendimento que pode passar, por exemplo, por candidaturas com estatuto especial dentro das listas do PS. Manuel Alegre já tinha "esticado a corda", como o próprio afirmou na entrevista ao Expresso do passado sábado, até ao limite, ao colocar como condições para um entendimento a alteração de políticas em pontos fundamentais da agenda do Governo e ao afirmar que gostaria de concorrer às legislativas em candidatura independente, se a lei permitisse.
As reacções sucederam-se, começando com José Lello a acusar Alegre de "falta de carácter". Ontem, em nova entrevista, agora à Antena 1, o ex-candidato presidencial exigiu uma demarcação da direcção do partido e do secretário-geral: "Se a direcção do partido não dá um sinal (...) de demarcação em relação às declarações de um dirigente que diz que eu não tenho carácter, não pode querer contar comigo como candidato a deputado nas próximas eleições; então tem de ir ganhar as eleições com quem faz essas declarações, se for capaz". Questionado se o secretário-geral do PS já deveria ter dado sinais de demarcação desta posição, Alegre admitiu que "os sinais podem ser dados de muita maneira". "O PS quer ir às eleições comigo ou sem mim? Essa é que é a questão. Tem de haver uma conversa entre mim e o José Sócrates e vai haver", afirmou, garantindo que "na próxima semana se verá, isto vai ter de se resolver muito rapidamente".
Por sua vez, o membro do secretariado nacional do PS José Lello indicou aos microfones do Rádio Clube Português - numa entrevista ao programa Politicamente, que é transmitido hoje às 12h - que quando acusou o seu companheiro de partido Manuel Alegre de "falta de carácter" o fez sem concertar previamente a sua opinião com ninguém. "Eu tenho opinião própria, tenho estatuto, idade e atitude para ter opinião", reforçou. Acerca da brecha que Manuel Alegre poderá estar a abrir no interior do PS, José Lello é muito claro: "Um partido (...) não pode admitir grupos organizados no seu seio", de forma a que "um pequeno grupo possa pôr em causa, digamos, uma vontade expressa de uma maioria".
Mas a verdade é que essa solução de unidade dentro da diversidade é possível, está prevista nos estatutos e até há exemplos práticos dela. O artigo 6.º dos estatutos do PS prevê criação de "correntes de opinião interna compatíveis com os seus objectivos" e reconhece-lhes o direito "de se exprimirem publicamente no respeito pela disciplina partidária". Acontece que a única corrente existente é a Opinião Socialista, de Manuel Alegre.
Por outro lado, o grupo parlamentar tem a experiência de diversidade plasmada nas duas deputadas do Movimento Humanismo e Democracia, cujas únicas obrigações são votar ao lado do grupo os orçamentos de Estado e as moções de censura ou confiança.
Ora, também Manuel Alegre tem o Movimento Intervenção e Cidadania (MIC). Se o "caminho é estreito", como o próprio Alegre tem repetido, a verdade é que ele existe. Resta saber se ele e José Sócrates o querem percorrer.

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