domingo, 8 de novembro de 2009

NORTE EM CRISE
Uma região a perder terreno
(JN) 8.11.09 ALEXANDRA FIGUEIRA, AFIGUEIRA@JN.PT
O Norte interrompeu, em 2007, anos e anos de perda de riqueza, mas até que ponto o Norte sairá mais forte, ou mais enfraquecido, da crise económica actual só pode ser alvo de especulação.
Entalada entre o Suriname e o Brasil, na América do Sul, fica uma das duas únicas regiões dos Quinze países da União Europeia cujo índice de riqueza é mais baixo do que o do Norte de Portugal. Trata-se da Guiana francesa que, a par da zona de Dytiki Ellada, na Grécia - o país que servia de consolo ao ânimo nacional, por tradicionalmente ser ainda mais pobre do que Portugal - são as únicas regiões de países que entraram ao mesmo tempo (antes, no caso francês) que Portugal na União Europeia (UE) e que têm um índice de pobreza superior ao nortenho. E, entre as doze nações que só há poucos anos começaram a receber milhões da UE para se desenvolverem, muitas viram já todo o seu território tornar-se mais rico do que o Norte: é o caso da Estónia, Eslovénia, Malta e Chipre.
Em 1995, os dados mais antigos do Eurostat, a entidade estatística comunitária, Portugal contava com uma riqueza por habitante, medida em paridade de poder de compra, de 75%; em 2006, depois de dezenas de milhar de milhões de euros (isso mesmo), a riqueza cresceu... para 76,4%. Espanha e Grécia, que entraram ao mesmo tempo que Portugal para a comunidade europeia, tiveram desempenho algo diferente: a riqueza criada no país vizinho disparou de 91,7 para 104,1% da média da União; e a Grécia cresceu, de 84,2% para 94,1% - ambas a ganharem mais de dez pontos percentuais, numa década. Já para não falar de países como a Eslovénia, que partiu do mesmo patamar que Portugal mas estava, em 2006, quase nos 88% da média comunitária.
O desempenho português, fraco como se vê, não é, contudo, homogéneo. A Madeira viu disparar a riqueza criada por habitante, estando agora quase ao nível da média comunitária, e os Açores cresceram 15%. Também o Algarve, Alentejo, Lisboa e Centro cresceram, mas de forma mais moderada do que as ilhas. O Norte, pelo contrário, ficou mais pobre.
Os dados do Eurostat são claros: em 1995, a riqueza média por habitante, no Norte, correspondia a 63,8% da média comunitária; uma década depois, tinha caído para 60,5%. E quem foi o culpado? O Grande Porto, que caiu mais de dez pontos percentuais (era, em 2006, tão rico quando a média do resto do país), o Vale do Ave e o Baixo Vouga (a faixa litoral a Sul do Porto), que não lhe ficaram muito atrás.
Ao longo dos anos, muitas foram as vozes a apontar para o crescente desequilíbrio da riqueza criada a Norte e a ligá-lo a uma distribuição de fundos comunitários, no mínimo, nebulosa. Nos dois primeiros quadros comunitários de apoio, a UE não exigia uma contabilização regional dos subsídios dados; no terceiro quadro, o último, Lisboa já tinha atingido um nível de desenvolvimento tal que viu fortemente cortado o montante de ajudas a que teve direito, mas, relativamente às restantes regiões, continuaram a não ser feitas contas ao recebido por cada qual.
Quanto ao actual envelope financeiro, o QREN, sabe-se que a esmagadora maioria das verbas (21,5 mil milhões de euros) tem que ser aplicada no Norte, Centro e Alentejo, mas a Comissão de Coordenação da Região Norte já veio dizer que, numa das vertentes do plano, tem havido um maior investimento nas outras regiões. Além disso, uma cláusula de excepção introduzida num anexo ao QREN permite desviar uma parte do dinheiro para Lisboa, apesar de a capital já ter perdido direito às verbas.
Os dados, ainda provisórios, do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, em 2007, o Norte cresceu acima da média do país. Recuperou algum terreno perdido, mas, logo a seguir, a crise económica apanhou em cheio os países (e as regiões) mais vocacionadas para a exportação, como é o caso do Norte. Ainda não há dados que indiquem se a região foi mais ou menos afectada do que o resto do país, mas, se o desemprego for um indicador, então a melhoria de há dois anos ter-se-á esvaído. Em Junho deste ano, o INE registava uma taxa de desemprego de 10,5% no Norte, superada apenas pelo Alentejo (11,3%).
Outro indicador que reflectirá o estado do Norte são as exportações. A região era, tradicionalmente, a maior exportadora do país. Continua a ser, mas arrisca-se a perder a liderança. O INE ainda não divulgou dados regionais deste ano, mas no final de 2008, o Norte vendia ao estrangeiro 38% das exportações nacionais, uma fatia mais fina do que a de 2000 (47%). A ganhar rapidamente terreno estão o Centro e, sobretudo, Lisboa e Vale do Tejo.
Uma indústria todos os anos a perder terreno no quadro das exportações nacionais, jovens a entrar no mercado de trabalho sem preparação (quatro em cada dez deixa o liceu antes da escolaridade mínima, o rácio mais alto do país) e uma economia a acrescentar cada vez menos riqueza ao que produz. Estas são algumas características económicas do Norte, que têm contribuído para a quebra do nível de vida e do bem-estar das suas populações.
Qualquer empresa transforma num produto e serviço as matérias-primas que compra, num processo em que o bem final deve ter maior valor. Quanto mais valor uma economia acrescentar aos bens e serviços que produz, maior a riqueza origina. E o que aconteceu no Norte, nos últimos anos? De novo, segundo a maior série disponível no site do INE, a região está a "levantar o pé do pedal". Em 1995, 30% do valor acrescentado do país tinha origem a Norte; até há dois anos, esse valor tinha crescido 75%, mas mais devagar do que o sucedido no resto do país (o centro subiu 87%, Lisboa 92% e o Algarve 113%). Resultado: mais de uma década depois, já só 28% do valor acrescentado do país residia a Norte.
Reflexo directo da queda da riqueza da região está o nível de vida das famílias. E, se a riqueza caiu a pique em torno do Porto, é de esperar que o mesmo seja revelado pelos estudos sobre o poder de compra do INE, comparando o ano 2000 (o primeiro) com 2005 (o último). E, de facto, assim é: no início da década, o poder de compra das famílias nortenhas correspondia a 86% da média nacional (a região de Lisboa estava nos 137%); cinco anos depois, quase todas as zonas do Norte tinham maior poder de compra, mas esse ganho foi anulado pelo mergulho de uma só: o Grande Porto. E, de entre os seus nove concelhos, um só foi responsável pelo descalabro: a própria cidade do Porto que, em 2000, se gabava de ter o maior poder de compra do país (238% da média, à frente de Lisboa), mas que, cinco anos depois, caiu para apenas 164% da média (atrás da capital e de Oeiras).
A quebra nas exportações veio agravar o início do fim de indústrias tal qual as conhecíamos desde os anos 80, como o têxtil e o calçado. Uma parte adaptou-se a um mundo sem restrições a importações baratas (sobretudo da China, mas não só), mas a reconversão das indústrias está longe de completa. A título de exemplo, refira-se que estes dois sectores (e também o mobiliário) têm graus de crédito malparado bastante superiores à generalidade das actividades económicas.
Até que ponto a recuperação indiciada em 2007 se manterá depois da crise, ninguém saberá. Mas, enquanto isso, a quebra nas exportações deixou muitas empresas com mercadorias dentro de portas e trabalhadores do desemprego. Enquanto assim for, o Norte será, não um centro de desenvolvimento, mas uma região dependente da ajuda do resto do país.

2 comentários:

terramar e ar disse...

Não ouçam o professor martelo ..ele odeia o norte litoral.. é o seu complexo de tramontano....

Anónimo disse...

ao tipos como Marcelo, chamava-nos nós aqui no norte de "Gabirus".Todo ele é um "manual de maus constumes", perverso nas ideias como nas acções, promotor de livros a pedido de editoras usando critérios subjectivos nas apreciações políticas. Um produto plástico, gabiru alimentado pela ignorância colectiva. Serve a Deus e ao Diabo, ajuda a manter este estado de letargía, de morrinha e desencanto. Em suma; representa tudo o que o país tem de deitar ao lixo.