segunda-feira, 2 de junho de 2008

Falta pessoal qualificado na Construção Civil

Já há muito que o povo do Norte do sector da construção civil tinha resolvido um assunto que o Terreiro do Paço se mostrava incapaz de resolver: o desemprego regional e os baixíssimos salários. E fê-lo, da forma tradicional, como se tivéssemos voltado aos anos 60. Dezenas de milhares, calculam-se em 75 000, demandaram o estrangeiro, mesmo o outro lado da fronteira galega, para asssegurarem o trabalho em troca de um pecúlio com um mínimo de decência. (É por isso que os números do desemprego valem o que valem) Quem olhar para a tabela salarial do CTT do Sector da Construção Civil para 2008, vê no escalão mais baixo os 340€, no mais alto os 821€, e os sectores intermédios pouco acima dos 500€. É claro que o pessoal resolve o desemprego e a exploração capitalista desenfreada dos que querem aplicar esta tabela mínima emigrando. No entanto, os empregadores se o fizeram, vão ter de trabalhar eles próprios, ou teremos de novo uma vinda de imigrantes facilitada, por serem os únicos capazes de aceitar estas altíssimas taxas de exploração e baixíssimas de remuneração. Sendo que os portugueses emigrantes, eles próprios também vão aceitar nos países de acolhimento os vencimentos mais baixos emborfa infinitamente superiores aos de cá. Donde, o grande trunfo do governo para este último ano, os milhões europeus nas obras públicas, poderão ser insuficientes, além de voltarmos a assistir ao fechar de olhos às condições de hiper-exploração dos imigrantes que virão preencher o lugar dos nossos emigrantes.
Entretanto, pelos vistos, prossegue o rumo nas grandes obras públicas o que tem provocado, finalmente, o gáudio do sector da construção civil das obras públicas, em momento de grande excitação face a alguns dos disparates previstos: um novo aeroporto em Alcochete quando é visível a estagnação do crescimento do tráfego aéreo comercial; uma nova ponte acoplada; um TGV Porto-Lisboa que é deitar dinheiro nos bolsos dos construtores sem nenhum ganho, pois com arranjos da linha actual e substituição dos piores troços, o Pendular é mais que suficiente para fazer o trajecto em duas horas e qualquer coisa; e a Frente Ribeirinha Lisboeta que em vez de ser paga pela Câmara de Lisboa vai ser paga por todo o país.
Mal estamos se o caminho para a luta contra o desemprego é o incremento de elefantes brancos para animar a economia e o emprego no último ano de mandato e vésperas de legislativas...
Virgínia Alves (JN) 30.05.2008
Até ao final do ano vão arrancar obras públicas num valor superior a três mil milhões de euros, mas o Sindicato dos Trabalhadores da Construção teme que "não haja mão-de-obra qualificada para as executar", por estar dispersa em Espanha e França. A solução "passa pela precariedade que tem como resultado um maior número de acidentes de trabalho".
Em conferência de imprensa, o presidente do Sindicato, Albano Ribeiro, apresentou a lista de estruturas a iniciar que lhe foram anunciadas pelo secretário de Estado das Obras Públicas. Perante este quadro congratulou-se com o "fim do desemprego na construção civil", uma vez que só as obras a lançar deverão "criar mais de dez mil postos de trabalho".
No entanto, o optimismo é de imediato ultrapassado quando recorda os número de trabalhadores portugueses que trabalham em Espanha e França, e com os valores dos salários praticados nesses países que impedem um regresso a Portugal.
"São já 75 mil os portugueses a trabalhar em Espanha e cerca de cinco mil já partiram para França", afirmou Albano Ribeiro, adiantando que mais seguirão o mesmo caminho, "porque este ano vão ser lançadas grandes obras em França".
O regresso parece difícil. "Estão a ganhar 1500 euros por mês em Espanha e não pensam voltar a Portugal para virem ganhar 531,50 por mês, na melhor das hipóteses", salientou.
Por essa razão, o dirigente sindical sublinhou a necessidade de lançar uma "verdadeira campanha a nível nacional, quem sabe uma greve, para que os salários subam pelo menos para os 800 euros mensais, um valor que certamente já faria muitos regressarem ao país".
No seu entender é "preciso mobilizar a sociedade para a importância que estes trabalhadores têm para a economia", só assim "teremos os trabalhadores mais qualificados em Portugal".
Albano Ribeiro frisou que sem "o regresso de milhares de homens a solução passa por contratar pessoal não qualificado. Uma solução que certamente irá aumentar o número de acidentes de trabalho, que tem vindo a diminuir".

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