segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Batalhas socialistas

(JN) 22.10.2008

O PS do Porto é fraco, frágil e submisso. O seu líder, Renato Sampaio, pratica uma gestão de fim-de-semana e não conhece os dossiês que dizem respeito ao Porto.
Fala sobre piercings e contadores de água. Não fala sobre a gestão do aeroporto, sobre a expansão do metro, ou sobre a aplicação de fundos comunitários. O retrato, demolidor, é de Pedro Baptista. Que também é socialista e que também é candidato à liderança do PS do Porto.
Uma espécie de franco-atirador do sector mais à esquerda do PS, praticamente condenado à derrota face ao poder do aparelho que Renato Sampaio personifica. Basta observar quem os acompanhou nas sessões de campanha dos últimos dias. Baptista reuniu um conjunto de figuras distantes dos directivos, como Octávio Cunha, Eurico Figueiredo, Nuno Cardoso ou Narciso Miranda. Têm pouca ou nenhuma influência nos sindicatos de voto essenciais para vencer eleições internas. Sampaio sentou à mesa todos os líderes das 18 concelhias do distrito do Porto.
O resultado final das eleições partidárias de Outubro adivinha-se. E com ele algumas das opções para a corrida às autárquicas, que terá lugar um ano depois. Desde logo, para a Câmara do Porto, em que a candidata consensual é Elisa Ferreira, assim a antiga ministra e actual eurodeputada o queira. Com a diferença de que, ganhando Sampaio, terá de concorrer sozinha contra a coligação PSD/CDS que suporta Rui Rio. Ficará pelo caminho a proposta de Baptista para que seja possível uma coligação com o Bloco de Esquerda, com o PCP, ou com ambos. "O PS deve perder os seus complexos de direita", defende o candidato da ala "marxista-leninista". Pelo menos de acordo com a catalogação de José Lello: o antigo líder do jornal "O Grito do Povo", disparou o deputado e apoiante de Renato Sampaio, "produz mais decibéis do que apoios".
A vitória de Sampaio sobre Baptista levará também à colocação de um ponto final nas já escassas ambições de Narciso Miranda se recandidatar pelo PS à Câmara de Matosinhos. Será Guilherme Pinto o escolhido, o que se traduzirá numa luta fratricida pela autarquia. Porque Narciso já está em campanha, preparando uma candidatura independente. Uma oportunidade que o PSD tentará aproveitar para conquistar um dos mais importantes bastiões socialistas no Poder Local.
As eleições distritais e a vitória previsível de Sampaio poderão também constituir um travão à ambição de Maria José Azevedo em Valongo. O seu rival Afonso Lobão - que já manifestou vontade pública de ser cabeça de lista pelo PS - é líder da concelhia e aliado do líder distrital. A socialista que esteve tão perto de derrubar o PSD, e que desde então vem batalhando por manter a oposição socialista na ribalta, corre sérios riscos de ser descartada.




Pedro Baptista, comentário: A utilização do aparelho dos presidentes das concelhias e dos secretários-coordenadores de secção na promoção de uma candidatura, para mais da candidatura de quem está no poder, é ilegítima para o senso democrático e ilegal no termos da lei dos partidos que impõe igualdade de tratamento das diversas candidaturas internas. No entanto, estiveram presentes no Tuela, sexta à noite, connosco, sem jantar, entre os cerca de 180 militantes, homens que têm cargos no aparelho, que lá foram de livre vontade por terem sido por nós convidados e não convocados, e por entenderem que lá deviam estar para a pedrada no charco, como por exemplo António Parada, Secretário coordenador e Presidente da Junta de Matosinhos, ou Eduardo Vítor, Presidente da concelhia de Gaia e da Junta de Oliveira do Douro. Também vários militantes bem colocados no aparelho nos garantem o apoio entendendo, e outros "mais do que bem colocados", no entanto, afirmam-nos que lhes é inconveniente dar a cara, o que mostra o clima em que se vive.

De notar, aliás, a capacidade de diálogo e a margem de manobra que demonstramos deter, ao nos fazermos rodear por sensibilidades díspares em relação a situações concretas.

Uma coisa é certa. A não ser que não consigamos fiscalizar devidamente o acto eleitoral, o voto nas directas presidenciais vai ser secreto. Embora não "seja" exactamente assim na eleição dos delegados em que é preciso dar a cara nas listas e arcar com as consequências de ser apodado por um dos que querem mexer no PS-Porto (não será uma honra?), o voto também será secreto.

Donde, meu caro Rafael Barbosa, se parece verdade o que diz na sua lúcida e arguta crónica, o "praticamente condenado à derrota face ao poder do aparelho que Renato Sampaio personifica" poderá, por decisão consciente e livre dos militantes fartos de serem "cacicados", fartos de um Porto inexistente e fartos de derrotas autárquicas, poderá trazer uma surpresa a todos e - quem sabe? - ao próprio candidato!

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