(Público) Alice Barcellos 28.09.2008
Dos três jornais nascidos no Porto, apenas um está numa situação sustentável: o Jornal de Notícias. Esta é uma das conclusões da tese de doutoramento da professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) Helena Lima, intitulada Os Diários Portuenses e os Desafios da Actualidade na Imprensa: Tradição e rupturas. O estudo, que estabelece uma ligação entre os acontecimentos históricos do país com os jornais portuenses, tenta explicar o fim de O Comércio do Porto e a crise n'O Primeiro de Janeiro, que quase levou ao seu encerramento em Agosto. O final da ditadura, o 25 de Abril e o período revolucionário, a imprensa estatizada, a reprivatização das empresas jornalísticas e a formação de grupos de media são os factos que guiam a investigação.Helena Lima defende que O Primeiro de Janeiro "só continua com o mesmo nome", uma vez que a linha editorial inicial do jornal já se perdeu. "O jornal passou de generalista para um projecto de jornalismo regional", explica a professora, completando que este diário "tenta sobreviver há mais de uma década".As "fórmulas administrativas" e "as orientações editoriais" adoptadas pelos jornais são os principais motivos de crise ou sucesso, refere o estudo. Durante os anos 80 e 90 do século XX a imprensa nacional passa por uma fase de privatizações e reestruturações. Depois do 25 de Abril grande parte dos diários nacionais ficam nas mãos do Estado - durante a ditadura pertenciam a bancos."Símbolos das cidades"O aparecimento de projectos inovadores, como o PÚBLICO, a formação de grandes grupos de media e a modernização das redacções acarretaram novos desafios. O Comércio do Porto acaba por não resistir à concorrência. Depois de pertencer ao Grupo Lusomundo, é, em 2001, vendido ao espanhol Prensa Ibérica. Em 2005, acaba por ser encerrado por questões financeiras. Helena Lima frisa que nesta altura o "Comércio já se tinha transformado num jornal de âmbito local, embora tenha tentado investir em melhores projectos editoriais ".No Janeiro, a crise começa em 1979, com a morte de Pinto de Azevedo, proprietário do jornal. "Ao longo de uma década, o jornal foi perdendo muitas características. Não havia uma linha editorial e aconteciam mudanças constantes de directores", justifica a professora. A sede do jornal, na Rua de Santa Catarina, acaba por ser vendida, o que mostrou a "fragilidade" do diário portuense fundado em 1868.Enquanto O Comércio do Porto e O Primeiro de Janeiro reflectem aquilo a que Helena Lima chama "deriva editorial", o Jornal de Notícias conseguiu afirmar-se junto do público. Seguindo uma linha "mais popular" do que os jornais de referência, o JN soube tirar partido da inserção num grupo de media. "Apostou na informação generalista, mas continuou a dar as notícias locais", analisa a investigadora.Segundo a professora da FLUP, o encerramento de um jornal centenário "é penoso para quem estuda os jornais". "Mais do que jornais, podem ser vistos como símbolos da cultura de uma cidade", garante Helena Lima. O Comércio do Porto, fundado em 1854, "era um símbolo do Porto". Com o seu encerramento, "um pouco da cidade também desapareceu", lamenta a investigadora. Helena Lima indica que a imprensa nacional é dominada por jornais de cariz generalista. Mas, a nível mundial, "as empresas de media estão a perceber que precisam de investir no local", afirma. "O jornalismo regional está a ressurgir", diz a investigadora, realçando que o jornalismo de âmbito local está cada vez mais presente "no meio on-line".
Dos três jornais nascidos no Porto, apenas um está numa situação sustentável: o Jornal de Notícias. Esta é uma das conclusões da tese de doutoramento da professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) Helena Lima, intitulada Os Diários Portuenses e os Desafios da Actualidade na Imprensa: Tradição e rupturas. O estudo, que estabelece uma ligação entre os acontecimentos históricos do país com os jornais portuenses, tenta explicar o fim de O Comércio do Porto e a crise n'O Primeiro de Janeiro, que quase levou ao seu encerramento em Agosto. O final da ditadura, o 25 de Abril e o período revolucionário, a imprensa estatizada, a reprivatização das empresas jornalísticas e a formação de grupos de media são os factos que guiam a investigação.Helena Lima defende que O Primeiro de Janeiro "só continua com o mesmo nome", uma vez que a linha editorial inicial do jornal já se perdeu. "O jornal passou de generalista para um projecto de jornalismo regional", explica a professora, completando que este diário "tenta sobreviver há mais de uma década".As "fórmulas administrativas" e "as orientações editoriais" adoptadas pelos jornais são os principais motivos de crise ou sucesso, refere o estudo. Durante os anos 80 e 90 do século XX a imprensa nacional passa por uma fase de privatizações e reestruturações. Depois do 25 de Abril grande parte dos diários nacionais ficam nas mãos do Estado - durante a ditadura pertenciam a bancos."Símbolos das cidades"O aparecimento de projectos inovadores, como o PÚBLICO, a formação de grandes grupos de media e a modernização das redacções acarretaram novos desafios. O Comércio do Porto acaba por não resistir à concorrência. Depois de pertencer ao Grupo Lusomundo, é, em 2001, vendido ao espanhol Prensa Ibérica. Em 2005, acaba por ser encerrado por questões financeiras. Helena Lima frisa que nesta altura o "Comércio já se tinha transformado num jornal de âmbito local, embora tenha tentado investir em melhores projectos editoriais ".No Janeiro, a crise começa em 1979, com a morte de Pinto de Azevedo, proprietário do jornal. "Ao longo de uma década, o jornal foi perdendo muitas características. Não havia uma linha editorial e aconteciam mudanças constantes de directores", justifica a professora. A sede do jornal, na Rua de Santa Catarina, acaba por ser vendida, o que mostrou a "fragilidade" do diário portuense fundado em 1868.Enquanto O Comércio do Porto e O Primeiro de Janeiro reflectem aquilo a que Helena Lima chama "deriva editorial", o Jornal de Notícias conseguiu afirmar-se junto do público. Seguindo uma linha "mais popular" do que os jornais de referência, o JN soube tirar partido da inserção num grupo de media. "Apostou na informação generalista, mas continuou a dar as notícias locais", analisa a investigadora.Segundo a professora da FLUP, o encerramento de um jornal centenário "é penoso para quem estuda os jornais". "Mais do que jornais, podem ser vistos como símbolos da cultura de uma cidade", garante Helena Lima. O Comércio do Porto, fundado em 1854, "era um símbolo do Porto". Com o seu encerramento, "um pouco da cidade também desapareceu", lamenta a investigadora. Helena Lima indica que a imprensa nacional é dominada por jornais de cariz generalista. Mas, a nível mundial, "as empresas de media estão a perceber que precisam de investir no local", afirma. "O jornalismo regional está a ressurgir", diz a investigadora, realçando que o jornalismo de âmbito local está cada vez mais presente "no meio on-line".
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