Pedro Baptista
Resultados já mais que difundidos pelos media industriais, para deglutir e esmiuçar entre nós durante as próximas semanas.
Uma primeira abordagem, por ordem decrescente do numero de deputados eleitos.
A CDU é um dos dois maiores derrotado de toda eleição. Tem um crescimento mínimo e vê a esmagadora maioria dos votos de descontentamento pela política do governo de Sócrates esvairem-se sobretudo para o BE. É confrangedor como o PCP que foi de Álvaro Cunhal se contenta em expor até à exaustão a figura simpática e até bonacheirona do Jerónimo de Sousa. E como tendo a imagem de uma tradição de cassete, reduz-la agora a uma mini-cassete em que se repetiram meia-dúzia de chavões contestários sem qualquer perspectiva para a resolução de fundo dos problemas nacionais. Chá e simpatia é muito pouco e é isso mesmo que os resultados dão. O PCP ao não querer enfrentar os problemnas dos nossos dias, ao manter a sua contumácia conservadora e estatista, e ao sentir-se realizado na manutenção do seu pequeno nicho, não assume as responsabilidades que o eleitorado e a história lhe colocam.
Seria altura de mudar qualquer coisinha. Mas a carta de de demissão de Domingos Lopes dá-nos conta que não será fácil para o PCP ultrapassar o ancilosamento crónico em que se encontra.
O BE tem uma vitória de grande expressão ao duplicar o número de deputados e ao ultrapassar à vontade o meio milhão de votos. Fasquias (algumas de última hora) cumpridas, direito a festa, sem dúvida, parabéns a Louça e Companhia. No entanto, é preciso assinalar que, há três semanas atrás, as perspectivas que se atribuiam ao BE não eram as da duplicação mas quase as da triplicação. Houve sondagens a apontarem os 16% e quase todas apresentavam resultados acima dos 10% com possibilidade de elegerem até 22 deputados. Ora tudo isso se esfumou numa campanha onde, para espanto de toda a gente, Louça, que monopolizou os ecrãs, foi uma desilusão. Uma desilusão pessoalmente pois no frente a frente mostrou-se débil, lento e inseguro e sobretudo nos conteúdos em que apresentou um BE pouco moderno e pouco familiarizado com os problemas estruturais e praticamente sem soluções imediatas viáveis, que é o que está em causa numa eleição deste tipo. Para piorar as coisas, o BE fica sem hipótese de fazer maiorias pontuais sozinho com o PS. No entanto, nota-se a existência positiva de muitas contradições dentro do BE que, se conseguirem persistir no não-sectarismo exemplar que têm dado mostras em relação às origens diversas dos seus dirigentes de 1ª geração, levarão muito provavelmente a um fortalecimento da clareza e pragmatismo políticos e portanto a um seu ainda maior crescimento e colocação como um forte partido socialista de esquerda. Todavia a situação a partir de hoje é muito diferente. O PS vai ter de ter uma política menos arrogante o que não vai permitir ao Bloco crescer facilmente como nestes quatro anos e meio. Não vai haver Maria de Lurdes para encherem os bolsos do BE! Agora, vai ser a sério, e o BE para crescer e mesmo para se aguentar, vai ter de mostrar ser parte da solução que o país precisa não apenas em termos sociais e das funções distributivas do Estado mas, no mais importante e básico que é a necessidade absoluta de crescimento da produção de riqueza por parte do país, sobretudo em bens exportáveis e de qualquer forma transaccionáveis, e da instauração de um regime de rigor e de resultados formativos efectivos nas escolas, não de resultados meramente estatísticos para enganar toda a gente e para nos enganarmos a nós próprios. Mas também não é alinhavando umas posições apressadas e atabalhoadas de convergência com o governo em investimento em obras públicas mais do que discutíveis que o problema se resolve.
Face às expectativas criadas e face ao contexto histórico, o CDS ombreia com BE como grande vencedor, com a vantagem simbólica, e não só, de lhe ter ficado à frente com cinco deputados. Como tem sido repetido pelo próprios é o melhor score centrista dos últimos 26 anos como permite a Portas engalanar-se com a função sempre desejada de Salvador da Direita Nacional, do Portugal Antigo, o dos Bons Velhos Tempos. Grande parte do seu acrescento vem da prestação abaixo de tudo do PSD, outra do seu populismo explorando tendências primárias de algumas pessoas, como é o caso da campanha contra o Rendimento de Reinserção ou da projecção mítica de um polícia em cada porta, uma esquadra em cada rua e os presos (os presos pobres bem entendido, não os dos negócios dos submarinos nem os da "Moderna" ou do Portucale) fechados na gaiola for ever. Junto com as boutades contra os imigrantes, temos aqui o bom mau cheiro da extrema-direita, o que não espanta ninguém, embora revolte pessoas a menos... É por isto, e mais algumas razões, que a vitória do CDS de Portas é preocupante. As outras razões prendem-se com a possibilidade de se estabelecerem maiorias entre o CDS e o PS, o que os números tornaram possível, embora a moral e política desaconselhem, no nosso modo de ver. A verdade é que Portas atingiu claramente o desideratum, desde sempre firmado, de acabar com a maioria de um só partido, donde se tirava uma maioria de dois partidos, evidentemente, sendo o seu a fazer de muleta.
O PSD de Ferreira Leite é o grande derrotado embora tenha conseguido aumentar ligeiramente o número de deputados em relação a Santana Lopes. São os dois momentos mais baixos da história do PSD: Manuela Ferreira Leite e Santana Lopes. E nem uma possível vitória dentro que quinze dias mudará este facto. Nem sequer. ferreira leite poderá dizer que conseguiu impedir a maioria absoluta de Sócrates pois quem o conseguiu foi claramente o BE e, mesmo, em pequeníssima parte, o CDS que também morde e com força a ala direita do PSD.
O que aconteceu é que Ferreira Leite, tal como Santa Lopes quando primeiro-ministro, foi muito fraquinha. Com nenhum atributo aparente a ajudá-la, os conteúdos que foi expelindo nas diversas sitações e confrontações foram confrangedoras. Mostrou-se sem qualquer preparação para chefiar um governo, e mesmo as oposições e reticências que colocou em relação às grande obras públicas, algumas das quais partilhamos, apareceu como uma posição de fundo em favor de um imobilismo conservador habilmente explorado por José Sócrates. E quando tentou assumir posições moralistas acabou por se enterrar no loodaçal das suas próprias contradições como no caso da asfixia (Madeira) ou moralização da vida política (Preto).
O PSD vai ter de dar a volta ao texto, mas parece claro, que esta liderança teve a sua hipóteses e teve o seu epílogo. É também isto que valem ideólogos de pacotilha como o inconfundível Pacheco, ou amizades políticas com amigos firmes como Cavaco Silva. Com amigos destes... Só esperamos que o PSD necessário a Portugal, o PSD social-democrata, implantado no interior e regionalizador, desta vez, face uma oposição responsável e coerente tornando-se uma alternativa credível e sustentada.
Finalmente o PS, o partido mais votado e portanto o vencedor desta eleição! O PS de Sócrates tem direito a festa, mas não se pode dizer que tenha sido uma festa rija. Conseguiu ser o partido mais votado, numa conjuntura internacional desfavorável, a uma margem muito razoável do seu mais directo competidor. No entanto, o número de deputados perdidos é enorme, o PS não chegou sequer aos 100 deputados, e vê à sua esquerda uma duplicação dos votos do BE, não sendo pior a situação, dada a má prestação final do BE e a sempre acutilante insistência de José Sócrates.
A verdade é que será Sócrates a ser indigitado como Primeiro-ministro mas perdeu a maioria absoluta, desideratum que era o do PS há uns poucos meses antes da "sondagem" das europeias ter acabado comn o mundo nirtual em que o gobverno voveu duranjte anos, quiçá engtanado também por outras sondagens e concerteza loubibriado peloa legiºao de aduladores que não foi capaz de avisar que a arrogtância e o autismo são sempre maus sinais para o govcerno do p'aís e em democracia para a sua continuidade.
Falando claro, não fora esta arrogância, esta obssessão de querer ser o contrário de António Gueterres, se o PS, ou seja Sócrates, tivesse feito a remodelação governamental que devia ter feito quando afastou Correira de Campos( mudando a educação, assuntos parlamentares, obras publicas, agricultura e economia) como propugnámos as cvoisas seriam diferentes e a maioria perdia poderia afinal se a maioria renovada.
Mas foi também pela mesma razão, pela tendência para a cegueira, para a teimosia, para a arrogância, que o eleitorado concluiu que a maioria absoluta para o PS seria má para o país. E o problema é que não basta sorrir quando não apetece... na política de hoje, a verdade da maneira de ser de cada um, vem ao de cima em qualquer momento de tensão. E é uma má opção tentar mudar nas aparências... Pensa-se enganar os outros e só nos enganamos a nós.
A pior das verdades é que o país está mal. Muito mal. Está pobre e super-endividado. Tem o Norte arrazado que era a única região em que as exportações compensavam as importações! Tem o território nacional destruído pelo centralismo, sendo que a capitalo nada produz de bens transaccionáveis, nada exporta, apenas importa como se ainda tivéssemos o ouro do Brasil!
A traição à regionalização é uma das razões desta situação. Mas precisamos de outra política, precisamos de produzir e de distribuir a riqueza no processo de produção (salários decentes e diminuição do desemprego), precisamos de vias de comunicação operativas para a exportação de mercadoria, e não megalomanias neo-riquistas. Precisamos de reduzir a despesa, cortanto cerce no número de deputados, passando os assessores de todas as instâncias do Estado para menos de metade, cortando nas mordomias, nos parques automóveis, nos custos de viagens, na pouca-vergonha dos gestores públicos. Bom, precisamos de um longo debate... é hora de o fazer.
15 comentários:
No essencial, concordo com esta análise do Dr. Pedro Baptista.
Os partidos democráticos obtiveram uma maioria histórica, relegando os partidos da Esquerda, de inspiração trotskista e marxista-leninista, para um plano absolutamente secundário.
Mesmo com um governo minoritário, o Eng. José Sócrates vai poder governar com estabilidade porque, tanto o PSD como o CDS, vão colocar os superiores interesses do país à frente dos interesses partidários.
Essa do PSD e do CDS mais os superiores interesses está mesmo boa!
Discordo desta análise, o PS teve uma vitoria arrazadora e das maiores de sempre, todos os outros perderam incluindo o Bloco de esquerda. Quem vai ser o primeiro-ministro? Não é do PS?
Este blog devia fazer propaganda ao PS e não reflexões que só servem para desmobilizar. É preciso é trabalhar,a tropa não paga pra pensar!
É por causa deste tipo de acéfalos que as coisas andam como andam...
O CDS de democático tem muito pouco. É um partido de extrema-direita acobardado tal qual o Dr. Portas
Pois, mas é com esse partido de extrema-direita que o Eng. José Sócrates vai ter que negociar. É que o partido de extrema-esquerda, liderado por aquele senhor que o Eng. Belmiro de Azevedo definiu como uma mistura de Vasco Gonçalves com o Bispo Macedo da Igreja Universal - IURD, só conseguiu eleger 16 deputados, contra os 21 do Dr. Portas.
Contra a vontade do povo, não há nada a fazer...
Porque há-de ter de negociar com o Portas? Esquece-se que pode negociar com o BE, com o PCP e até com o PSD! Fazendo acordos com o CDS é a melhor forma de rebentar com o PS. E o Belmiro é personagem que também dá para boas definições. As teses do Portas sobre a imigração e sobre o rendimento mínimo são de extrema-direita encapotada e incompatríveis com qualquer negociação com o PS, como o ferro Rodrigues afirmou e bem.
O que agora é importante é saber que PR vamos ter para segurar uma situação destas, sabendo-se que as autárquiucas dão PSD-PS mais uns mistérios de independentes e meiaduzia de restos CDU.
MFL foge com as nalgas à seringa ao querer misturar as três eleições e discutir tudo em conjunto. Pode ser dizer ., e é o que vai dizer, que ganhou as europeias e as autárquicas e subiu uns pontecos nas legislativas e mais dois ou tres deputados.
Mas a questão co cavaco é prioritária. Para o país mas em particular para o PSD.
Porque não sae respeitam todos os partidos? Que conversa é essa de haver uns democráticos e outros não?
Caro José Silva
É uma questão doutrinária. Como muito bem sabe, os partidos comunistas ortodoxos, como é o caso do PCP, nunca renegaram a sua raiz marxista-leninista, por isso o seu programa continua a defender a ditadura do proletariado. Quando ao Bloco de Esquerda, a prática política dos seus dirigentes durante o PREC, foi sempre muito clara, rejeitando a chamada "democracia burguesa". Para esse partido, a verdadeira democracia reside no Poder Popular, à boa maneira do regime cubano.
Ficando apenas nas coisas que o Sr. diz, Sr. Aroso, o Sr. parou no tempo. Nem sabe que as coisas não são estáticas ao contrário de si. A ditadura do proletariado já saiu do programa do PCP há mais de 30 anos! Quanto ao Louça, era um jovem adolescente do tempo do PREC! A maior parte dos dirigentes do BE eram adolescenters, alguns nem tinham nascido e a grande parte dos seus activistas ainda eram um projecto não concretizado dos pais que ainda não se conheciam.
Qual questão doutrinária, qual cabaça.
Se eu fosse levantar a história dos lideres do seu partido, o PSD, havia de ser bonito encontrar os curriculos.
Mas não vou por aí! Trinta anos é muito tempo. Até para si, Sr. Aroso. os argumentos que usa, apoucam-no.
Sr. Silva,
Olhe que não, olhe que não!
o BE cometeu um erro crasso ao fechar a possibilidade de se coligar com o PS. As pessoas querem soluções, caro Louça? A não ser em situações muito excepcionais não há lugar nem ninguém quer revoluções violentas na Europa.
No dia em que o BE assumir compromissos governativos, tem duas opções:
1. Manter o discurso tipo Bispo Macedo da IURD, que promete tudo e mais alguma coisa, levando Portugal à bancarrota.
2. Perceber que este país já não tem paciência, nem dinheiro, para brincar às revoluções, adoptando por isso uma atitude realista e responsável.
Em qualquer dos casos, o PS será sempre fortemente penalizado, porque os portugueses votarem maioritariamente nos partidos democráticos (PS, PSD e CDS) e não estão dispostos a embarcar em mais aventuras gonçalvistas.
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