terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Tendência 'alegrista' adia rupturas com Sócrates
(Diário de Notícias) 13.01.2009 JOÃO PEDRO HENRIQUES
Manuel Alegre reuniu ontem, no Hotel Altis, em Lisboa, a sua tendência no Partido Socialista. Se alguém esperava rupturas, enganou-se. Houve "decisões", que "a seu tempo serão anunciadas", sobre a "relação" da tendência com a direcção do partido, "tendo em vista as próximas eleições". Mas, para já, revela-se uma vontade: "Estamos, como sempre, dispostos a discutir politicamente e à volta dos valores e princípios que defendemos. E com base em propostas políticas concretas." Questionado sobre se a relação da tendência com o PS saiu mais forte da reunião, revelou-se enigmático: "Não depende só de nós". Depende também, presume-se, da direcção do partido.
Outras certezas foram expressas pelo deputado no final da reunião: por um lado, o "movimento vai continuar", "isto é uma realidade" - "haja o que houver, mantemo-nos unidos", sendo agora o objectivo "integrar pessoas não filiadas"; e por outro: "Comigo não há mercearia. Nenhum de nós está à venda para o que quer que seja nem nunca a nossa disputa foi por cargos ou por lugares."Pelo meio, surgiu também, um inédito sinal positivo à governação: "Houve elogios a uma ministra, a da Saúde, pela forma como tem resolvido alguns problemas. Quando se critica também é bom dizer que se elogia."Ana Jorge apoiou Alegre nas presidenciais. Mas este elogio significa também que o ex-candidato presidencial se esforça por manter algumas pontes com Sócrates.
À entrada da reunião, assumiu o seu quinhão de responsabilidade na maioria absoluta do PS. "Na maioria absoluta que ele teve, como se viu nas presidenciais, há uma fatia também em que se calhar eu dei a minha contribuição, participando na campanha, como participei ao lado dele.
"Foi neste contexto que comentou o convite que o secretário-geral do PS lhe fez, na entrevista à SIC da semana passada, para renovar o seu mandato de deputado: "Sabe que não sou eu sozinho, não é só pelos meus lindos olhos."Rindo-se, recusou a hipótese de vir a ser considerado responsável - "como fez o Ricardo Costa, aliás um excelente jornalista" - de ter nas suas maãos a maioria absoluta do PS nas próximas legislativas. "Qualquer dia sou eu o responsável pelo atentado de Sarajevo", disse - numa referência que se presume ser ao atentado que vitimou, em Junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, atentado esse que esteve na origem da I Grande Guerra Mundial (1914-1918).
Manuel Alegre voltou a reafirmar que muito dificilmente voltará a ser candidato pelo PS a deputado. "É difícil , a menos que determinadas coisas aconteçam" - "coisas" essas que não especificou. Fez questão, por outro lado, de manter as opções em aberto: "Nunca disse que ia fazer um partido e nunca disse que não ia." Aqui, porém, sublinhou exclusivamente as dificuldades. "É o meu amigo que financia?", perguntou a um jornalista, rindo-se. O dinheiro, disse, "é uma das coisas que é essencial": "Não sou um aventureiro político, sou uma pessoa responsável. Um partido não se faz como um fato." Por outras palavras: o caminho da criação de uma nova formação partidária parece, excluído. Dramatizando as decisões que terá de tomar, afirmou: "Está um momento pesado para mim, um momento pesado demais para uma só pessoa." Ele e Sócrates poderão entender-se mas "a porta é estreita". "Para ele e para mim."

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