quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

"Cautela com os amores" com muçulmanos, avisou D. José Policarpo

Há momentos (e que momento!) em que, Deus sabe, mais valia estarmos caladinhos... Ou de como, se a voz de Deus pode exprimir-se pela boca de um néscio, também a nesciência pode exprimir-se em nome de Deus. Um mau caminho a tresandar a racismo, xenofobia e ocidentalismo colonial... E um mau caminho para a paz... Além de que, não saberemos onde está afinal a ignorância... Milhares de portugueses leram o Alcorão, pelo menos desde a sua edição popular em português em 1978, não pela Igreja Católica, mas pela Europa-América e é espantoso que o Cardeal disso não se aperceba. E isto também de debitar sentenças sobre amores por parte de quem esteve sempre, em princípio, "off-side" na matéria, não parece grande princípio.

(JN) 14.01.2009O Cardeal Patriarca de Lisboa surpreendeu na noite de terça-feira o auditório do Casino da Figueira da Foz ao advertir as jovens portuguesas para o "monte de sarilhos" de se casarem com muçulmanos.
Falando na tertúlia "125 minutos com Fátima Campos Ferreira", que decorreu no Casino da Figueira da Foz, D. José Policarpo deixou um conselho às jovens portuguesas quanto a eventuais relações amorosas com muçulmanos, afirmando: "Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam."
Questionado por Fátima Campos Ferreira se não estava a ser intolerante perante a questão do casamento das jovens com muçulmanos, D. José Policarpo disse que não.
"Se eu sei que uma jovem europeia de formação cristã, a primeira vez que vai para o país deles é sujeita ao regime das mulheres muçulmanas, imagine-se lá", ripostou D. José Policarpo à jornalista e anfitriã da tertúlia, manifestando conhecer "casos dramáticos" que, no entanto, não especificou.
Na sua intervenção, o Cardeal Patriarca de Lisboa considerou "muito difícil" o diálogo com os muçulmanos em Portugal, observando que o diálogo serve para a comunidade muçulmana demarcar os seus espaços num país maioritariamente católico.
"Só é possível dialogar com quem quer dialogar, por exemplo com os nossos irmãos muçulmanos o diálogo é muito difícil", disse D. José Policarpo durante a tertúlia.
Respondendo a uma pergunta da anfitriã sobre se o diálogo inter-religioso em Portugal tem estado bem acautelado, o Cardeal Patriarca sublinhou que, no caso da comunidade muçulmana, "estão-se a dar os primeiros passos".
"Mas é muito difícil porque eles não admitem sequer [encarar a crítica de que pensam] que a verdade deles é única e é toda", sustentou.
Sublinhou ainda que o diálogo serve para os muçulmanos, num país maioritariamente católico, "como fazem os lobos na floresta, demarcarem os seus espaços e terem os espaços que eu lhes respeito".
Mais tarde, quase no final de mais de duas horas de conversa e respondendo, na altura, a uma pergunta da assistência sobre a presença muçulmana na Europa, lembrou que a comunidade muçulmana de Lisboa representa cerca de 100 mil fiéis "centrados à volta de três grandes mesquitas" e definindo as relações com o Patriarcado como "habitualmente boas e muito simpáticas".
No entanto, e noutro registo, alertou para a necessidade de existir "respeito e conhecimento" sobre a religião muçulmana enquanto "primeira atitude fundamental" para o diálogo.
"Nós somos muito ignorantes, queremos dialogar com muçulmanos e não gastámos uma hora da nossa vida a perceber o que é que eles são. Quem é que em Portugal já leu o Alcorão?", inquiriu.
"Se queremos dialogar com muçulmanos temos de saber o bê-a-bá da sua compreensão da vida, da sua fé. Portanto, a primeira coisa é conhecer melhor, respeitar", acrescentou D. José Policarpo.
Outra atitude a praticar na relação com os muçulmanos, sublinhou o Cardeal Patriarca é "não ser ingénuo", afirmação que ilustrou com a visão que alegadamente possuem de que o sítio onde se reúnem para rezar "fica sempre deles".
"Os muçulmanos têm uma visão na sua religião que o sítio onde se reúnem para rezar fica na posse deles, é o sítio onde Alá se encontrou com eles portanto mais ninguém pode rezar naquele sítio", disse D. José Policarpo.
Lembrou, a propósito, um "problema sério" ocorrido na Catedral de Colónia, na Alemanha, cedida pelo Cardeal da cidade à comunidade muçulmana local para uma cerimónia no Ramadão.
"Depois consideravam a Catedral posse deles, foi preciso a intervenção da polícia para resolver aquilo (...) Não sejamos ingénuos na maneira de trabalhar com eles", argumentou.

2 comentários:

Primo de Amarante disse...

O Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, considerou, ontem, que o casamento com pessoas de outras religiões “pode causar uma carga de sarilhos”.

Naturalmente, todos os casamentos podem causar sarilhos, desde que as pessoas descubram que não se amam, mas penso que é um preconceito considerar-se que esses sarilhos surjam com os casamentos entre pessoas de religiões diferentes.

Conheço casos que demonstram precisamente o contrário, com óptimas consequências pedagógicas para os seus filhos. Aprendem, com o exemplo dos pais, a tolerância e o respeito por valores diferentes. E quando os fundamentalismos crescem, seria melhor sublinhar os bons exemplos, em vez dos maus.

Anónimo disse...

Radioso comentário, caro Primo!