Ambiente de crispação na CP devido a denúncias de ilegalidades na empresa
(Público)04.01.2009, Carlos Cipriano
Uma carta anónima com denúncias graves sobre actos de gestão da CP levou o ministro Mário Lino a mandar a Inspecção-Geral de Obras Públicas (IGOP) abrir um inquérito para averiguar os factos nela relatos, revelou ontem o Sol.
(Público)04.01.2009, Carlos Cipriano
Uma carta anónima com denúncias graves sobre actos de gestão da CP levou o ministro Mário Lino a mandar a Inspecção-Geral de Obras Públicas (IGOP) abrir um inquérito para averiguar os factos nela relatos, revelou ontem o Sol.
O mesmo semanário diz que são 43 os autores do referido documento, que visa essencialmente o presidente da transportadora, Cardoso dos Reis, e outros elementos do conselho de gerência, bem como quadros superiores da empresa.
Em causa estão 15 denúncias, as mais graves das quais se prendem com alegados interesses entre Cardoso dos Reis e a Siemens, por este querer facilitar aquela multinacional na compra de novas automotoras e no contrato de manutenção de locomotivas daquela marca. O responsável pela Divisão de Aprovisionamento e Compras da CP, João Almeida, também é visado por comprar automóveis para a empresa no stand de um familiar, bem como o administrador Paulo Magina, por ter comprado "alguns milhares de doses de vacinas para a gripe" destinadas a trabalhadores da empresa na farmácia da sua mulher.
O Sol não explica por que motivo, sendo anónimo, o documento expressa a posição de 43 "quadros técnicos e não técnicos" da CP, algo que o PÚBLICO também não conseguiu ontem apurar.
Questionado pelo PÚBLICO, o presidente da empresa refutou todas as acusações, que apelida de "insidiosas e maldosas", e afirmou que dispõe de elementos para provar à IGOP a sua falsidade. "É inqualificável o teor das acusações", disse Cardoso dos Reis, referindo-se, por exemplo, à mulher do seu colega da administração que é enfermeira e não possui qualquer farmácia. O presidente da CP diz que o seu mandato se tem caracterizado pela abertura de inúmeros concursos para manutenção, segurança e limpeza, que põem em causa contratos que vigoravam há dezenas de anos e que é normal que alguns se sintam incomodados por se pôr o mercado a funcionar. A empresa está a elaborar um caderno de encargos para a compra de material circulante, que inclui composições para a linha de Cascais e automotoras para serviço regional e de longo curso. Um contrato que se aproxima dos 400 milhões de euros, um valor suficientemente elevado para, segundo Cardoso dos Reis, pôr nervosas algumas empresas ligadas aos potenciais concorrentes. E lembrou que foi ele quem cancelou o contrato do Metro Mondego (entretanto relançado), o que terá provocado também algumas insatisfações. De resto, o contrato de manutenção das locomotivas 4700 que em breve vão entrar ao serviço na CP Carga prevê exactamente o contrário daquilo de que o gestor é acusado - a manutenção será feita pela EMEF (empresa afiliada da CP) em cooperação com o fabricante Siemens, através de uma empresa mista em que a primeira será maioritária. Uma situação que já estava prevista no caderno de encargos por forma a que a EMEF incorporasse know-how sobre locomotivas eléctricas de última geração.
Outra das situações referenciadas no documento, de que o PÚBLICO teve conhecimento, tem a ver com a "oportunidade" da compra de novos assentos para os Alfa Pendulares, quando, na realidade, a sua substituição se torna inevitável ao fim de 12 anos. Carlos Madeira, antigo responsável da comunicação da empresa, também é visado por ter comprado milhares de kits para oferecer às passageiras no Dia Internacional da Mulher, tendo aquele material acabado num armazém da empresa.
Esta é a segunda investigação de que a CP é alvo pela IGOP, depois de ter sido revelado que Cardoso dos Reis contratara para seu director de comunicação um empresário, João Oliveira, que vendera serviços à empresa. O caso acabou com a sua demissão ao fim de 16 dias, mas as relações entre ambos ficaram cortadas.
O mesmo aconteceu com o anterior responsável pela comunicação, Carlos Madeira, que terminou subitamente com a sua exoneração e um corte de relações. Este último é também dirigente socialista no sector ferroviário.
As nomeações por motivos partidários dentro da CP não são de agora, mas têm originado fortes tensões dentro da operadora ferroviária, com a multiplicação de e-mails anónimos com endereços criados exclusivamente para esse fim. Trocas de acusações, alegadas denúncias e provocações citando nomes de quadros são frequentes.
Um desses mails é assinado por Vaga Socialista Ferroviária/Tendência Manuel Alegre, Bloco de Esquerda e outro apenas por Anónimos.
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