O que nos preocupa não são os bancos, até porque eles vão dizendo que não é preocupante (face ao que lucram, claro), mas o significado social do facto, não deixando de ser relevante saber-se que metade deste crédito é à habitação, ou seja, representando famílias com a vida financeira destroçada pelo menos por muito tempo. Os sacrifícios impostos ao povo são mesmo sacrifícios com consequências, ao contrário daqueles que, pelos seus rendimentos, tiveram apenas de reduzir um pouco a margem do dispêndio.
Ana Paula Lima (JN) 24. 05. 2008
A actividade económica em Abril abrandou para níveis de dois anos, os indicadores do consumo privado caíram para mínimos de cinco anos, no primeiro trimestre do ano, e o crédito malparado atingiu um recorde no mês de Março. São estes alguns dos indicadores sobre o estado da economia portuguesa nos primeiros três meses de 2008, divulgados, ontem, pelo Banco de Portugal (BdP).
No primeiro trimestre, o indicador coincidente mensal da actividade económica, calculado pelo BdP, caiu para 0,7 pontos, o valor mais baixo desde Abril de 2006. A par deste resultado, o país assistiu a uma retracção no consumo privado, a primeira em cinco anos, que contribuiu, igualmente, para a desaceleração da economia. Em Abril, o indicador coincidente do consumo privado caiu para 0,2 pontos negativos, o valor mais baixo desde Julho de 2003.Depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter anunciado que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu, em volume, somente 0,9%, face ao primeiro trimestre de 2007, e abrandou em 1,1 ponto percentual, na comparação com os últimos três meses do ano passado, o Boletim Estatístico de Maio e os Indicadores de Conjuntura, do BdP, vêem reforçar o sentimento de que a economia nacional está em retracção. No primeiro trimestre de 2008, o consumo privado evoluiu lentamente, com o indicador coincidente a descer para os 0,4 pontos, depois de, no final de 2007, se situar nos 1,3 pontos, e de no início do ano passado estar nos 1,6 pontos. No mesmo sentido, o indicador de confiança dos consumidores caiu para 42 pontos negativos, menos 9 pontos, face ao período homólogo de 2007, e menos quatro pontos que no último trimestre do ano passado.
Portugal assistiu, no primeiro trimestre de 2008, a uma subida do crédito de cobrança duvidosa concedido a particulares. No final de Março, segundo o BdP, o crédito malparado ascendia a 2,481 mil milhões de euros, mais 14,7% que no primeiro trimestre de 2007. Números que deixam a Associação de Defesa do Consumidor (DECO) preocupada, estimando um aumento dos pedidos de ajuda de pessoas que não conseguem pagar empréstimos. Até Abril, a Deco recebeu 545 pedidos de ajuda, mais 35% que no mesmo período de 2007. Para os bancos, o malparado não é, no entanto, preocupante pois representa, apenas, 1,12% do crédito total concedido, que atingiu os 129,85 mil milhões de euros naquele período, mais 10,2%, face aos primeiros três meses de 2007. Segundo o BdP, mais de metade do valor do crédito malparado (1,36 mil milhões de euros) diz respeito a empréstimos à habitação e, só no mês de Março, o crédito de cobrança duvidosa atingiu os 590 milhões de euros, mais 44%, na comparação com Março do ano anterior. Paralelamente, o BdP, conclui que os portugueses investiram mais em depósitos a prazo, tendo-se registado, em Março, o valor de entregas mais elevado dos últimos 19 anos, no valor de 102,3 mil milhões de euros.
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