Com LUSA (PJ) 29.05.2008 O Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte advertiu em conferência de imprensa que “vai faltar peixe fresco já no próximo fim-de-semana”, em consequência da paralisação convocada a nível nacional pelo sector, que se unirá em protesto pela escalada do preço dos combustíveis. “Não haverá peixe fresco no mercado já a partir do fim-de-semana devido à greve do sector que inicia amanhã”, garantiu ontem, em Vila do Conde, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte. António Macedo, que falava em conferência de imprensa marcada devido ao aumento dos combustíveis, advertiu que não acredita que, “de um dia para o outro, o ministro [da Agricultura e Pescas] tenha algo debaixo da cartola ou uma varinha mágica para resolver o problema”, garantindo assim que o sector entrará em greve por tempo indeterminado apesar da reunião de ontem com o ministro Jaime Silva. António Macedo, sobre a postura do Governo face à crise que afecta os pescadores nacionais, criticou ainda “que o primeiro-ministro tenha vindo dizer publicamente que não entra em facilitismos e o próprio ministro afirmado que os pescadores já têm muitos apoios”. Para o sindicalista, o facto do preço dos combustíveis ter “triplicado nos últimos anos”, originou “situação insustentável para a pesca”, quer para armadores, quer pescadores. Mas a questão dos combustíveis “não é o único problema” do sector, tendo apenas vindo “agravar” a situação já existente devido aos “preços do pescado na primeira venda que depois é especulado para o consumidor final e às taxas e dos emolumentos, cujos aumentos têm também ultrapassado as taxas de inflação”. “Até nessas taxas o Governo não tem tido a vontade política de não sobrecarregar os pescadores”, acusou António Macedo.
Segundo garante o sindicato, os pescadores portugueses estão a ser prejudicados face aos colegas espanhóis, franceses e de outros Estados-membros, cujos governos, autorizados pela Comissão Europeia, estão a atribuir os chamados «mínimos» de ajudas ao sector. Nesse sentido, o sindicalista exigiu: “Queremos do Governo português uma postura idêntica à de outros Estados-membros, ou seja, que aplique os mínimos e que dê outro tipo de ajudas para fazer face à subida de preços que tem vindo a afundar o sector”. Ainda que sem avançar que iniciativas poderão ser tomadas além da greve, António Macedo afirmou que, “uma vez parado, o sector terá que decidir que formas de luta a tomar”, disse. Reivindicou, por outro lado, que o Executivo português “se junte a outros Estados-membros, nomeadamente França e Espanha, para alterar as regras comunitárias” que impedem mais do que determinado nível de ajudas directas à produção. “A situação é grave. Os pescadores ganham hoje o mesmo, ou menos, do que há 10 anos”, garantiu, justificando que “na pesca nunca se sabe o que se vai pescar, o que torna impossível ao sector reflectir no produto final o custo dos aumentos dos combustíveis”.
Já o presidente da Federação dos Sindicatos do Sector da Pesca e Congéneres da Galiza que também participou na conferência de imprensa em Vila do Conde apelou “à greve” e disse mesmo que “se for preciso bloquear portos, bloqueamos”. Xavier Aboi rematou que “o objectivo é mostrar aos Governos de Madrid, Lisboa e Bruxelas que os pescadores têm direito a viver do trabalho, sem serem obrigados a emigrar ou optar por outra actividade, como tem acontecido”.
A paralisação dos armadores e pescadores insere-se num protesto a nível europeu, com a participação de italianos, franceses e espanhóis, e relaciona-se com os aumentos nos preços do combustível, afirmou a Associação dos Armadores das Pescas Industriais (ADAPI).Em comunicado a ADAPI, garantiu igualmente que a reunião de ontem de representantes do sector com o ministro Jaime Silva “não coloca em questão a paralisação” e que as associações representativas das pescas de todo o país confirmaram a decisão de imobilizar a frota portuguesa a partir das 00h00 de amanhã.
Entretanto, Jaime Silva já veio dizer que o preço do gasóleo para a pesca não vai baixar, acrescentando que a solução dos problemas do sector passa por medidas “estruturais, de ganhos de competitividade”, constantes de um documento a apresentar no Conselho de Ministros da UE, a realizar dia 21 no Luxemburgo. Entre as medidas citou uma verba de 324 milhões de euros para “reestruturar, ganhar produtividade e competitividade” no sector das pescas, e uma verba de nove milhões de euros que prevê “algumas paragens” de pesca e “alguns abates” de frota. “As preocupações dos pescadores fazem sentido, mas esta crise não é só dos pescadores é de todos os portugueses”, concluiu.
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