segunda-feira, 19 de maio de 2008

Rovira, líder da Esquerda Republicana Catalã, diz que Portugal devia apoiar uma Espanha não-unitária.

Não seria a primeira vez que os portugueses apoiavam a Catalunha. Assim aconteceu no Sec. XVII e se não fosse o porfiado combate catalão que acabou em derrota, bem Portugal não teria consolidado a independência depois de 1640, como narra em pormenor o nosso Sampaio Bruno. O que o Secretário-geral da Esquerda Republicana Catalã, Rovira, diz, do ponto de vista histórico, é inteiramente verdade. Tão verdade quanto o acolhimento castelhano de Saramago... A limitação de Rovira é que, mais uma vez, não compreende que em Portugal também existe um "imperialismo doméstico" sobre o resto do país, exactamente por parte dos tais "sectores dirigentes" que refere como tendo complexos em relação a Madride. E que, concomitentemente, o Porto também tem de ser um grande pólo referencial do Noroeste Peninsular. É a segunda vez que, em entrevistas a portugueses, Rovira mostra este desconhecimento. Não haverá quem o convide a visitar o Norte? Para o alojamento pode ficar em nossa casa...

(JN)Ricardo Chega /LUSA 19.05.2008
Em entrevista à Agência Lusa, o vice-presidente do Governo Autónomo da Catalunha lançou a bomba a "Espanha ainda não assumiu a independência de Portugal" e Portugal deveria trabalhar no sentido de ajudar a criar uma Espanha não unitária. Ou seja, apoiar o projecto independentista da Catalunha, que funcionaria como "contrapeso lógico ao centralismo" de Madrid, que, diz, quer manter uma "tutela paternalista" e uma atitude de "imperialismo doméstico" sobre Portugal. Josep-Lluis Carod Rovira não adianta mais do que isto e entra pela defesa de uma Catalunha independente, assente em raízes históricas em 1640, durante o reinado de Filipe III, Madrid foi confrontada com revoltas em Portugal e na Catalunha, mas o Império, apoiado pela França, reprimiu as sublevações catalãs e da Biscaia. "Se as coisas tivessem sido ao contrário, hoje Portugal seria uma região espanhola e a Catalunha um estado independente".

Confrontado com estas afirmações, o escritor português residente em Espanha José Saramago, rejeitou-as liminarmente. Assumido defensor da integração de Portugal em Espanha, garante que esta tem mais em que pensar do que em "alimentar qualquer tipo de rancor histórico". "A pessoa que fez essas afirmações está a tentar defender os interesses da Catalunha, não acredito nada que esteja interessada em Portugal", reagiu o escritor. "Não há nada mais fácil do que afirmar, mas é necessário que se demonstre" o que se diz. "A imprensa fica com uma manchete e não tem mais nada para dizer do que isso. Não aparece a justificação de uma afirmação tão séria e grave como essa".

A afirmação de Rovira vai mais longe ainda "Historicamente, sempre houve um certo complexo por parte de alguns sectores dirigentes (portugueses) em relação a Espanha", quando "o que menos interessa a Portugal é uma Espanha unitária". Por isso é que o número dois do governo catalão quer conseguir o apoio português no projecto de independência da Catalunha, cujo referendo propõe que se realize em 2014. E garantiu ter já "muitos aliados internacionais" nesse sentido. Mais uma vez, sem se adiantar.Para lá de defender uma maior aproximação entre os portugueses e os 7,5 milhões de catalães, Josep-Lluis Rovira sugere a criação de um "Erasmus peninsular, que teria de ser muito mais fácil e acessível do aquilo que conhecemos". E que teria de começar por uma visão multipolar da península por parte de Portugal. "A minha grande obsessão é que haja uma Península com diferentes pólos referenciais" Lisboa, Madrid, Barcelona, Bilbau e Sevilha. Rovira defende que as relações com Portugal se intensifiquem e se aposte "muito mais na cultura" e na inovação e que "o ideal seria apostar no mundo universitário e no intercâmbio de determinadas especialidades". O turismo, os laços portugueses com África, a posição geográfica da Catalunha e o comércio são, diz, áreas a explorar.

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