quinta-feira, 15 de maio de 2008

Economia está em abrandamento desde Dezembro do ano passado

Não se vê em que é que a política de redução do défice tenha ajudado a economia, antes pelo contrário, como é propalado há sete anos pelo Centrão. Por outro lado, a grande fatia da redução do défice vem directamente da bolsa dos contribuintes e, em particular, dos automobilistas e utentes directos ou indirectos dos transportes, representando não só o seu empobrecimento como a queda do consumo interno. Quando a receita fiscal deveria ter aumentado pelo aumento da massa tributável resultante do crescimento económico que haveria, se não fosse a actual política fiscal (como Sócrates ainda há dias reconhecia no Porto), e não pelo aumento da massa tributável resultado da subida em flecha dos derivados do petróleo. Esta era, de resto, a doutrina do PS, face aos governos da direita PSD-PP entre 2002 e 2005, corroborado aliás pelo Presidente Sampaio... Era uma boa doutrina, como os factos, em última análise, demonstram. E esta não será a última análise.
Claro que o abrandamento resulta do contexto internacional( económico e financeiro) e do seu efeito na queda das exportações, tal como a ligeira aceleração obtida no passado resultou do mesmíssimo contexto e do seu efeito na subida das exportações.
Por isto mesmo a nossa economia não pode depender das flutuações das exportações tradicionais resultantes das flutuações dos contextos externos, mas sim de um aumento da sua competitividade que se imponha por si, reduzindo o peso dos factores de instabilidade externa.

RUDOLFO REBÊLORUI COUTINHO-ARQUIVO DN (DN) 15.05.2008
As famílias portuguesas estão a consumir menos, os empresários estão a apertar o investimento, a produção nas fábricas está a fraquejar e o Estado está a contrair as despesas. Salvam-se as exportações que ainda estão a animar a economia, apesar dos crescentes sinais de desaceleração nos principais parceiros comerciais, como Espanha e Alemanha.
O Governo prevê para este ano um crescimento da economia de 2,2%, mas deverá ser obrigado a rever as expectativas abaixo de 1,9%, após o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelar hoje o andamento nos primeiros três meses do ano. Os analistas já fizeram as contas, estão a rever os papéis, e agora, para este ano, esperam uma expansão entre os 1,6% e os 1,7%. Para o primeiro trimestre antecipam um aumento entre 0,3% e 0,4% na riqueza do país, em comparação com o último trimestre do ano passado. Isto significa que a economia terá crescido entre 1,6% e 1,7% em relação ao período de Janeiro a Março do ano passado. Ou seja, o "ambiente" na actividade é semelhante ao "sentido" no terceiro trimestre de 2007. O consumo das famílias ao crescer apenas 0,3% - entre Janeiro e Março, em relação aos últimos três meses de 2007 - "deverá estar relativamente estabilizado", diz Cristina Casalinho, economista chefe do BPI. É que as perspectivas de aumentos dos rendimentos "não são encorajadoras" e, do lado das despesas domésticas, o aumento das taxas de juro e das facturas "com carácter mais rígido", como a energia e transportes, "constrangem o consumo" das famílias.
Pela primeira vez desde Junho de 2003, o indicador avançado do consumo do Banco de Portugal detectou, uma descida dos gastos das famílias. O que parece ser comprovado pela desaceleração das vendas dos lojistas e dos serviços, de acordo com dados de Março do INE. Para o corrente ano, as variáveis mais dinâmicas serão o investimento e as exportações, mas ainda assim, diz a economista Cristina Casalinho, "em ambos os casos observaremos arrefecimento". Nos últimos três meses, o ambiente de incerteza sobre a conjuntura e a queda das vendas de cimento (uma descida de 8,7% entre Janeiro e Março) e de carrinhas comerciais, indiciam um enfraquecimento do investimento, de acordo com Rui Constantino, economista do Banco Santander.
Recentemente o INE dava conta de um "abrandamento significativo" do investimento até Fevereiro. A produção industrial desacelerou nos primeiros meses (de acordo com o INE) e desde Janeiro o contributo do Estado para o crescimento da economia foi nulo. Até Março, o investimento público caiu - em comparação com igual período de 2007 - e mesmo a despesa total no sector Estado (incluindo salários dos funcionários e compra de bens e serviços ) registou uma contracção de quase 1%. Ou seja, o Estado não está a animar a actividade.
O comércio externo é, como dizem os economistas, a variável mais dinâmica da economia. Ainda só existem dados para os primeiros dois meses do ano. Até Fevereiro as exportações (para a UE e resto do Mundo) cresceram 8% em termos reais, enquanto as importações aumentaram acima dos dois dígitos (16,4%), influenciadas pelos aumentos dos preços do petróleo e dos produtos alimentares. O défice comercial agravou-se, mas ainda assim - descontando o efeito preços - o contributo do comércio externo para o crescimento da economia terá sido positivo.O primeiro cliente português, Espanha está a sofrer os efeitos de uma forte contracção dos gastos das famílias e do investimento privado. Terá crescido 0,3% no primeiro trimestre (a mais baixa taxa desde 1995) mas ainda assim as exportações portuguesas para aquele mercado aumentaram 11,8%. Para a Alemanha, segundo destino das mercadorias, as vendas cresceram 3,9%.

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