quarta-feira, 15 de julho de 2009

Orgulho,diz ela
(JN)15.7.09 A Língua não é apenas um meio de comunicação, é também um instrumento de conhecimento e de pensamento. A Língua fala em nós tanto quanto nós a falamos, constitui o elemento fundamental da nossa identidade enquanto povo (e, sobretudo, enquanto "pátria", pluralidade de valores identitários que herdámos dos nossos país e que os nossos filhos herdarão de nós). São, por isso, dramáticas as notícias que dão conta de que, nos recentes exames nacionais do 9.º ano, o número de negativas a Língua Portuguesa aumentou 70%, apesar de o actual ME ter levado o nível de exigência dos exames ao grau zero. A falta de exigência a que se chegou é tal que, para se opor à opinião dos peritos para quem os exames do 12.º ano de Matemática foram este ano de novo "escandalosamente fáceis", o presidente da APM argumenta que o exame "tinha algumas coisas que exigiam alguma interpretação de (…) linguagem escrita". Ou seja, o exame não seria assim tão fácil porque… exigia "alguma" interpretação de linguagem escrita. Isto a alunos do último ano do Secundário! Diz a ministra que o país devia "encher-se de orgulho" com isto…

4 comentários:

http://dourointeiro.blogspot.com disse...

Nada que surpreenda mas muito que continua perturbar quem não se deixa convencer pelas estatísticas. Não foi nestes últimos anos que se iniciou o fabrico de “Doutores” em aviário o que viria a confirmar o célebre provérbio: "É um burro carregado de livros".
Vem de trás o facilitismo, o tapar do sol com a peneira, acções de consequências trágicas para o país e para os próprios intervenientes que, chegados ao mercado de trabalho são confrontados com graus de exigência muito acima das capacidades que adquiriram à força. Estão à vista os malefícios de semelhante falta de rigor espelhado nas dificuldades que o país enfrenta e que, num acto de verdadeiro desespero, tenta remediar o mal com o ensino disseminado no programa, Novas Oportunidades.
O burro carrega livros mas nãos os lê, tão pouco lhe será exigida essa componente instrutiva por que é um animal irracional, logo inimputável. Os outros, aqueles que legitimados por um direito conseguido a carregar livros, sentados nas cadeiras da administração pública ( os privados sabem escolher) de alguma maneira tomam decisões que nos dizem respeito e nos afectam, são-no também graças à benignidade de um sistema escolar que facilita tudo para sobreviver na improficiência de quem o gere.
Estes serão igualmente inimputáveis mas nunca passarão de “burros”, carregados ou não com livros.

M. Araújo disse...

e...reactivo a minha bomba de perfumes. Volto à escola que não temos, que nos foi sonegada a troco da introdução da doutrina que se pretende capaz de construir o "homem tecnológico" sem valores e sem alma. Não será certamente esse o indivíduo do futuro como nunca o foi no passado. A educação deve afirmar-se pelo diálogo entre quem dirige e quem aplica os saberes no terreno, traçar metas e objectivos comuns e nunca optar pelo absoluto e arrogante poder de um só. Este governo errou na educação como outros erraram anteriormente; esqueceu as lições sobejamente conhecidas, arvorou-se em detentor de genialidades nunca lhe reconhecidas e esqueceu-se de ouvir quem a experiência. Uma sociedade que dispensa a cultura e finge desconhecer que a humanidade também se rege por afectos, pode sobreviver mas muito mal e longe dos objectivos a que se propôs com a consequente desgraça em que envolve a educação.
Tem de estar orgulhoso quem viu reconhecidas as fantasias das suas mentes perversas.

Pedro Baptista disse...

Belissimo texto, M. Araujo. Vai ao cerne da questão. Total acordo.

M. Araújo disse...

Às vezes transcendo-me, amigo e caro camarada.