quarta-feira, 15 de julho de 2009

Hermínio da Palma Inácio

No dealbar de uma manhã de 1969, não seriam ainda 8 horas, encontrava-me no centenário "Piolho", cidade do Porto, quando chega o Fernando Moura, senta-se ao meu lado, inclina-se e sussurra-me.
-Acabei de ajudar a fugir o Palma Inácio!
Eu que, nos meus 20 anos andava a trabalhar nos preâmbulos do que viria a ser, dois anos depois, "O Grito do Povo" e que tinha percebido que o princípio vital para lançar um movimento revolucionário anti-fascista era o do rigor absoluto nos cuidados conspirativos, achei a abordagem amalucada, senti os pés molhados com a presumida rega, e como o Fernando piscava tanto os olhos como efabulava revoluções, aquiesci generosamente e não lhe liguei mais patavina.
Podia lá ser, um tipo metido numa operação daquelas, vir dar à língua ao primeiro que encontrasse! Embora conhecesse a muita consideração que ele tinha por mim, se fosse verdade, não era possível pôr-se a badalar sem mais nem menos e ainda por cima no Piolho, lugar particularmente vigiado pelos esbirros da PIDE e outros quejandos!
A verdade é que a meio da manhã, na Faculdade de Letras, a coisa já corria célere e dada como certa. O Palma tinha-se pirado! Mesmo antes do julgamento que decorreria naquela tarde em S. João Novo. E quando a meio da tarde se soube dos 15 anos de prisão sentenciados para uma cadeira vazia, cruzando-me com o filho do juiz presidente do Tribunal Fantoche que era meu colega, não resisti em, injustamente, dizer-lhe das boas. Claro que ele não tinha culpa do pai que tinha e fui contra os meus próprios princípios anti-filonómicos. Mas, com tanta alegria e euforia, não resisti.
Foi dos dias mais inolvidáveis e marcantes da minha vida, nesse ano de 1969 em que, digamos assim, começava a deixar de ser um puto...
Obrigado, Hermínio, por teres nascido e vivido, por poder ter ouvido contar os teus combates anti-fascistas, por te ter podido abraçar há uns anos poucos, por te teres mantido um exemplo de humildade e coerência! De pureza! (Pedro Baptista)

4 comentários:

Anónimo disse...

São Homens como Palma Inácio que ainda nos fazem sonhar.
Parabéns Pedro Baptista.
Palma Inácio merecia estas palavras de um amigo.
Alguém disse que nasceu pobre e morreu pobre. O PS podia ter mais solidariedade para quem nunca pediu nada.
Jantei algumas vezes com Palma Inácio e gostava de o ouvir falar.
Um homem simples, coerente e observador.

GAVIÃO DOS MARES disse...

Oh povo Ingrato!!!
Quando te levantas e gritas:
"Palma Inácio P'RÓ PANTEÃO!!!

GAVIÃO DOS MARES disse...

Eh!!! tava no gozo|||

GAVIÃO DOS MARES disse...

Blá blá blá...
O lápis censório resiste.
P.B.= Pomaz de Borquemada?