Podemos sempre optar por não ler a notícia...
Ivete Carneiro (JN) 9.5.2008. O recado é apenas um e muito simples as reformas em curso no Serviço Nacional de Saúde (SNS), sobretudo a que envolve a empresarialização dos hospitais, têm de ter em maior atenção a política de recursos humanos e a motivação dos profissionais.
A dica é deixada ao Governo pelo Sindicato das Ciências e Tecnologias da Saúde (SCTS) e tem por base um inquérito a trabalhadores do sector. Entre 30 e 60% deles têm a percepção de que as coisas pioraram desde 2004, apenas 5% a 10% falam em melhorias e o cenário é claramente desfavorável aos hospitais transformados em entidades públicas empresariais (EPE). O estudo sobre os efeitos percebidos da reforma na prestação de cuidados e no estado psicológico dos trabalhadores envolveu cerca de 10% dos profissionais de tecnologias da Saúde em funções no SNS, quer no sector público administrativo (SPA) quer em EPE. E aborda 24 parâmetros que vão da autonomia profissional à relações com a hierarquia, passando pela qualidade e quantidade do serviço prestado. "Esperávamos que os indicadores do SPA tivesse piorado em relação ao estudo anterior, feito em 2004, e verificámos o contrário", diz Almerindo Rego, presidente do SCTS. A única vantagem clara dos EPE parece ser nas "iniciativas visando gastar menos com a mesma qualidade". E mesmo assim, apenas 17% dos inquiridos falam em melhoria nos hospitais empresarializados, enquanto 48% respondem que a situação piorou (em 2004, eram 43%). Em contrapartida, só 9% apontam uma melhoria no SPA, contra 26% que sentem uma degradação (muito menos do que 45% de há quatro anos). Apesar desta pequena evolução positiva no EPE, os restantes indicadores revelam uma degradação acentuada, com 40% a 60% dos profissionais a sentirem-se mal. "Todos os indicadores são muito maus e são piores nos hospitais empresarializados", conclui Almerindo Rego. Para o sindicalista, estes resultados permitem perceber alguma desnatação de que se vem falando nos recursos humanos da Saúde. E alerta para as consequências para lá da fragilização dos serviços, a fuga dos melhores profissionais para o sector privado vai descapitalizar a qualidade de ensino pré e pós-graduado. "Vamos perder no ensino e as novas gerações terão uma formação menos boa". Para lá do risco, alerta, de "perda de qualidade e humanismo na relação com os utentes", a que se soma a "desmotivação dos profissionais".
Sem comentários:
Enviar um comentário