(DN) 11.05.2008 Jorge Fiel, redactor principal
"Acidente no final da A12, à Ponte Vasco da Gama. Na A5 e na Marginal há filas em Carcavelos. Sempre na A5 temos também a informação ainda não confirmada de acidente na zona das portagens. No acesso à Ponte 25 de Abril, a fila está na baixa de Corroios. Na A1 está resolvido o acidente do Trancão e a fila encaminha-se agora para a Segunda Circular, aeroporto-Benfica, que já está completamente cheia. Quem optar pelo IC2 encontra fila na zona do Sacavenense. No IC19, a lentidão habitual até à Amadora e fila Estado-Maior-Pina Manique. No Porto, VCI Freixo-Arrábida, há fila do Freixo até Faria Guimarães e, no sentido inverso, de Bessa Leite até Francos. Na A3 e Circunvalação há lentidão em direcção à VCI".Foi este o retrato polaroid do trânsito nas duas principais cidades do País, tirado pela RFM às 08.47 desta quinta-feira. Bem simpático, por sinal. Normalmente é bem pior. A informação de trânsito das 08.10 apresentara-se com cores bem mais sombrias.Não estou a dar uma grande novidade. Temos todos o saber de experiência sobre o inferno que é, nas horas de ponta, entrar e sair de carro de Lisboa ou do Porto.Eu próprio fartei-me dos engarrafamentos em Carcavelos (nas portagens, na A5, ou na Rotunda, na Marginal) e equipei-me com um passe Lisboa Viva. Por 50 euros/mês estou dispensado das filas de trânsito e tenho direito a viajar no metro e nos comboios da Linha. Parece-me um bom negócio.No que toca aos engarrafamentos, eu estou do lado da solução. Quem continua a fazer parte do problema são as dezenas de milhares de lisboetas e de portuenses que - por comodidade ou inexistência de alternativa - teimam em usar o carro nas suas deslocações diárias casa-trabalho-casa.A persistência e dimensão dos problemas de trânsito deixa-me intrigado. Somos um dos três países mais endividados da Zona Euro. 2008 será o terceiro ano consecutivo de perda de poder de compra, o mais longo período de variação negativa dos salários reais desde o 25 de Abril. Nestes dez anos que levamos na moeda única, a taxa de crescimento anual média do investimento em Portugal foi, tristemente, negativa (-0,5%), bem longe dos 2% da média da Zona Euro e dos invejáveis 4,3% de Espanha. Apesar de todos estes sinais de crise, as filas no acesso à Ponte de 25 Abril não diminuem.O preço do petróleo duplicou, nos últimos três anos e a Goldman Sachs prevê que o preço do barril vá atingir os 200 dólares. Os combustíveis aumentaram 14 vezes desde o início do ano. Por razões fiscais, os carros em Portugal são mais carros do que no resto da UE. Apesar de todos estes sinais alarmantes, há um automóvel por cada dois portugueses, e de acordo com as previsões do Observatório Cetelem (a maior empresa europeia de crédito ao consumo) dentro de quatro anos vamos possuir mais carros per capita que os japoneses, os ingleses e os belgas.Face à explosão do preço de petróleo, em mercados mais perfeitos e menos autistas do que o nosso, os consumidores reagem e economia adapta-se. Na Índia, por exemplo, os camelos voltaram a estar na moda e o seu preço, pressionado pela procura, aumentou quatro vezes num ano, fixando-se nos 600 euros por unidade.Por cá, o pessoal assobia para o ar e faz de conta que não é nada connosco. Glosando Scolari e Mário Lino (dois pândegos que muito alegram o nosso dia-a-dia) eu pergunto: "Não seremos nós os camelos?"
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