O triunfo de imbecilidade
(Público) 06.07.2009 - 22:10 Manuel Carvalho
Ao ver a transmissão em directo da chegada de Ronaldo ao estádio do Real Madrid pudemos aprofundar o receio de que as sociedades avançadas estão empenhadamente a caminho da imbecilização. A veneração dos ídolos criada pelo marketing e pela devoção futebolística justificam tudo, até honras de directos que os revelam à saída do hotel, os mostram na simples qualidade de passageiros de um automóvel descapotável, os transformam em Deuses do novo Olimpo dos tempos modernos que são os estádios de futebol. O dia de hoje é um manifesto da capacidade do Real Madrid em vender a sua imagem ao mundo, mas é também a prova de acefalia das televisões que vêem nesse negócio uma forma de lucrarem à custa da alarve disponibilidade das multidões para perderem minutos, horas, das suas vidas a seguir de perto qualquer banalidade quotidiana da vida de um ídolo.
Já ninguém pensa em remunerar com fama os cientistas, ou os músicos, até num país, como o nosso, que tem entre as suas poucas glórias o facto de eleger um poeta como símbolo do seu dia nacional. A vida não se faz apenas de altos desígnios, da grandeza da ciência ou da genialidade das artes. A vida faz-se também com paixões prosaicas como as que os grandes dribles ou remates de Ronaldo proporcionam. Mas uma coisa é exaltá-lo no seu palco, no relvado onde exprime o seu talento. Outra é pegar nesse talento para o transformar numa espécie de Deus vivo cujos gestos mais ínfimos têm de merecer a nossa atenção. O que hoje se viu na multiplicação de directos de Ronaldo é o aproveitamento de um génio para chegar a uma criação artificial que rende audiências e, por causalidade, dinheiro. Muito dinheiro. Nada disto seria censurável se o peso do exagero não convertesse o desfile num episódio que suscita asco e lamento. Ronaldo não tem culpa, nem o Real Madrid, ou, com alguma complacência, as televisões. Quem tem, afinal, culpa é a cultura dominante que cada vez mais relativiza o essencial e se deleita com a imbecilidade. Oitenta mil em Madrid para ver Ronaldo no Santiago Bernabéu e mais uns milhões a seguir pela TV o seu percurso até à sacralização? Pobre Espanha, pobres de nós.
(Público) 06.07.2009 - 22:10 Manuel Carvalho
Ao ver a transmissão em directo da chegada de Ronaldo ao estádio do Real Madrid pudemos aprofundar o receio de que as sociedades avançadas estão empenhadamente a caminho da imbecilização. A veneração dos ídolos criada pelo marketing e pela devoção futebolística justificam tudo, até honras de directos que os revelam à saída do hotel, os mostram na simples qualidade de passageiros de um automóvel descapotável, os transformam em Deuses do novo Olimpo dos tempos modernos que são os estádios de futebol. O dia de hoje é um manifesto da capacidade do Real Madrid em vender a sua imagem ao mundo, mas é também a prova de acefalia das televisões que vêem nesse negócio uma forma de lucrarem à custa da alarve disponibilidade das multidões para perderem minutos, horas, das suas vidas a seguir de perto qualquer banalidade quotidiana da vida de um ídolo.
Já ninguém pensa em remunerar com fama os cientistas, ou os músicos, até num país, como o nosso, que tem entre as suas poucas glórias o facto de eleger um poeta como símbolo do seu dia nacional. A vida não se faz apenas de altos desígnios, da grandeza da ciência ou da genialidade das artes. A vida faz-se também com paixões prosaicas como as que os grandes dribles ou remates de Ronaldo proporcionam. Mas uma coisa é exaltá-lo no seu palco, no relvado onde exprime o seu talento. Outra é pegar nesse talento para o transformar numa espécie de Deus vivo cujos gestos mais ínfimos têm de merecer a nossa atenção. O que hoje se viu na multiplicação de directos de Ronaldo é o aproveitamento de um génio para chegar a uma criação artificial que rende audiências e, por causalidade, dinheiro. Muito dinheiro. Nada disto seria censurável se o peso do exagero não convertesse o desfile num episódio que suscita asco e lamento. Ronaldo não tem culpa, nem o Real Madrid, ou, com alguma complacência, as televisões. Quem tem, afinal, culpa é a cultura dominante que cada vez mais relativiza o essencial e se deleita com a imbecilidade. Oitenta mil em Madrid para ver Ronaldo no Santiago Bernabéu e mais uns milhões a seguir pela TV o seu percurso até à sacralização? Pobre Espanha, pobres de nós.
8 comentários:
Nos últimos dias não vi televisão mas, a julgar por este artigo do Manuel Carvalho, estamos de facto a bater no fundo.
Eu, que sou portista mas não gosto de futebol, tive que gramar durante toda a semana com vários directos sobre as eleições no Benfica, como se disso dependesse o futuro do nosso país.
Ainda há quem se queixe das corridas de automóveis no Circuito da Boavista, que só acontecem de dois em dois anos...
Anuncia-se em alta berraria o fruto das perversas oscilações do mundo, cujos os efeitos colaterais, causaram este amontoado de detritos. O dedo dos media está lá; está sempre a apontar-nos os atoleiros, a carregar com força nos botões da máquina do anúncio porque sabe que do meio do caos, surgem os rendimentos que precisam para se manterem a flutuar no pântano que criaram.
Seja quem for o herói, a grande pena é ter de ser os de mais juízo a pagar os custos da propaganda ao inútil e compartilhar à força da insânia de muitos.
ainda cá volto:
E que dirão vossas eminências dos "encierros" de S. Firmin?
Vejam o El Pais on line, ou o(sei que é blasfémia) ABC.es.
Ontem, cerca das 20:00 3X2=6 canais (RTP1 e RTPN, SIC e SICN, TVI e TVI24) transmitiam exactamente as mesmas imagens da "Missa" do Ronaldo.
Nada de anormal, dado que fazem exactamente o mesmo com a virgem de fátima e com o papa de roma, pelo natal e pela páscoa.
Nada de anormal quando temos um canal público (pelo menos) que continua a dar a missinha do domingo, e que continua a transmitir esse espectáculo BÁRBARO e CRIMINOSO a que chamam touradas...
Diz o cronista que as TVs não tem culpa ????????????????????????
CLARO QUE TEM !!!!!!!!
São CUMPLICES DE CRIMES PÚBLICOS, assim como CÚMPLICES dos mesmos CRIMES são os nossos políticos e governantes que o permitem, fomentam e aplaudem !!!!
Onde está essa nódoa do cavaco ???
Com isto cala-se ???????
Pareço indignado????
Estou indignado e ENOJADO !!!!
Pedro Aroso, sabe que gosto tanto como o Pedro de automobilismo principalmente na sua variante histórica e, provavelmente, no domingo lá andarei a dar uma vola a ver os calhambeques.... MAS
o que Rui Rio faz/fez, com o circuito da boavista, é exactamente a mesama MERDA, que me indigna e ENOJA, só que a um nível mais rasteirinho, o dele...
Abra os olhos de vez.
Um abraço
António Moreira
Caro António Alves
Se quiser dar umas voltas ao circuito a bordo de um Lotus, apareça no próximo sábado, dia 11 de Julho:
http://clublotusportugal.blogspot.com
Ó Pedro Aroso
Agora fiquei cheio de inveja do António Alves... :(
António Moreira
António Moreira:
Como deve ter percebido, enganei-me. O convite é dirigido a si. As minhas desculpas.
Ainda não sabemos a hora exacta, mas o desfile deve ocorrer entre o meio-dia e as 14:00. Talvez consiga arranjar-lhe um livre-acesso para o paddock.
Apareça no Castelo do Queijo a partir das 11:00.
Um abraço
Caro Pedro Aroso
Claro que percebi o engano :)
Muitíssimo obrigado pela sua gentileza e pela disponibilidade que sempre tem demonstrado.
Vou tentar aparecer mas, obviamente, sem compromisso que isto de ser pai de uma filhota pequena não deixa grande margem de manobra...
Outro Abraço
Antómio Moreira
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