Estamos no início de uma grande semana! É que - dizem os jornais - o dia 18 inicia um ciclo de conferências promovido pelo presidente da Câmara Municipal do Porto e destinado a que este edil aproveite a sua própria "janela de oportunidade" (como agora se diz…), nos termos que cito do "Diário de Notícias" (3/6/2008): "Hoje estou aberto a ser convencido de que ela [a regionalização] é uma excelente solução para Portugal".
Uma tal notícia seria susceptível de considerações de muitos tipos. Cinjo-me a um episódio exógeno, ocorrido há pouco tempo em Bruxelas: almoçava com uma cidadã portuguesa, funcionária europeia há mais de 20 anos e já próxima da reforma, pessoa hoje bastante alheada das realidades nacionais; quando lhe referi, de passagem, que ia a Famalicão para participar num debate sobre regionalização, arregalou os olhos e recordou o "Livro Branco da Regionalização" - publicado no início dos anos 80, na sequência da maior discussão nacionalmente levada a cabo sobre o tema -, dizendo: "Vou procurar o exemplar que ainda devo ter guardado no meu caixote de recordações". Sentado ao nosso lado, um parlamentar espanhol soltou um expressivo "coño", assim assinalando o seu espanto relativamente a um assunto decidido há 30 anos e ainda por concretizar - "muy machos, los portugueses!", concluiu. Reconheço que tenho de me controlar para não explicitar o meu pensamento quanto aos custos, nomeadamente para a cidade do Porto e a Região do Norte, de décadas de responsáveis alheados. Mas o certo é que não se pode receber a "abertura" agora anunciada com um mero "mais vale tarde do que nunca", ocorrendo ela quando já passaram três séries de fundos estruturais (os QCA) e o QREN está lançado e em execução, quando o Porto e o Norte tanto já foram perdendo do seu vigor e influência sem que ninguém o pudesse denunciar consistentemente e com a devida legitimidade. Ao que acresce, ainda, a incoerência dessa "abertura" à luz do incondicional apoio concedido a Manuela Ferreira Leite, uma anti-regionalista militante de todas as horas. Contento-me, pois, com essa ideia dos Evangelhos segundo a qual há mais alegria nos céus por um pecador que se converte do que por todos os justos. E, não querendo interferir na liberdade jornalística, peço humildemente que se evitem referências como a publicada pelo "Expresso" (7/6/2008): "Este ciclo de conferências é lido como uma forma de Rio se preparar para o confronto com Elisa Ferreira - a putativa candidata do PS à Câmara do Porto e uma fervorosa regionalista". Porque só assim se não introduzirão elementos eventualmente perturbadores da concentração que a dita reflexão necessariamente irá requerer; tanto mais que, segundo o próprio, o objectivo visado é o de um debate afastado das eleições e "sem tacticismos políticos ou questões emocionais", a realizar até Abril de 2009 - longe, bem longe das eleições, portanto… Nesta mesma linha, e não fora a maré adversa que se conseguiu gerar à volta do F. C. Porto, talvez até também pudesse vir a calhar um ciclo de conferências sobre a projecção internacional que o clube deu à cidade nos últimos 25 anos! Não obstante, fica a sugestão…
1 comentário:
Eu como livre de qualquer filiação a qualqquer partido, mas como adepto, talvez já demasiado convicto, da Regionalização, vejo com bons olhos a iniciativa da Câmara do Porto.
Para mim não me interessa quem tem a iniciativa, mas sim o próprio debate. Se o Dr. Rui Rio "ficar convencido" isso será bom para a causa regionalista. Assim como se este debate trouxer à luz o tema da Regionalização para mais gente, é positivo.
Vou tentar estar presente.
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