Mais um sucesso na política externa nacional. Só a expressão"diplomacia do resultados" vinda de mais algum gabinete de marketing ou do departamento de exames do Ministério da Educação era dispensável: é pirosa, explicita e enfatiza as relações diplomáticas como artificiais, quando todos sabemos o que sempre foi e é a diplomacia. Sendo, além do mais, um pleonasmo.
(Público)24.07.2008, Inês Sequeira
O terceiro encontro cara a cara, no espaço de oito meses, entre José Sócrates e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, começou ontem em Lisboa num ambiente de "calor humano" e de forma quase afectuosa.
O terceiro encontro cara a cara, no espaço de oito meses, entre José Sócrates e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, começou ontem em Lisboa num ambiente de "calor humano" e de forma quase afectuosa.
A chegada aos jardins da residência oficial do primeiro-ministro em São Bento atrasou-se mais de uma hora e às 21h, ainda sem jantar, só houve mesmo tempo para a assinatura de vários acordos comerciais e para discursos (sem direito a perguntas de imprensa), depois de tocar a banda da GNR.
O ar mais fresco que já arrepiava àquela hora não impediu que Chávez se mostrasse especialmente caloroso: "Estamos em casa de amigos", comentou por várias vezes. Dirigindo-se a Sócrates, fez questão de agradecer ao "amigo primeiro-ministro" a "generosidade e calor humano" e salientou o "carinho" entre os dois povos. "Fazemos um compromisso de honra nesta relação", reforçou.
Já Sócrates elogiou a comunidade portuguesa que vive na Venezuela, "pelo trabalho que fazem", e salientou que a relação entre os dois países "não é apenas política e muito menos económica, mas entre povos e pessoas que se conhecem, estimam e com interesses comuns". Não deixou no entanto de chamar a atenção para aquilo que classificou como "diplomacia de resultados".
Entre os acordos que já tinham sido assinados à chegada das duas comitivas, por vários membros dos dois governos, as obras públicas foram o "prato principal".
Mário Lino, ministro das Obras Públicas, deu o nome a um memorando de entendimento para a construção de habitações na Venezuela, incluindo a possibilidade de instalar uma fábrica de elementos prefabricados associado a um programa de assistência técnica. Outros dois contratos envolvem várias empresas portuguesas: um consórcio formado por Teixeira Duarte, Mota-Engil, Grupo Lena e Edifer deverá participar na ampliação e modernização do porto de La Guaira, a começar pela elaboração do próprio projecto; já a Teixeira Duarte, actuando a solo, comprometeu-se à realização de várias obras hidráulicas ligadas à execução da barragem Dos Bocas. Foi também assinado um contrato no seguimento da troca de petróleo por produtos portugueses acordada em Maio na Venezuela, durante a visita de Sócrates, e que prevê o fornecimento de medicamentos por seis laboratórios portugueses no valor de 20 milhões de euros. E um segundo memorando de entendimento envolve incentivos à cooperação no sector das telecomunicações, informática e serviços de correio. Na visita de Sócrates em Maio acompanhavam o primeiro-ministro 80 empresários portugueses. Na altura. falou-se num valor global expectável de negócios entre 250 a 300 milhões de euros, associados ao protocolo para a troca de petróleo importado pela Galp, vindo da Venezuela, pela compra de produtos portugueses pela parte do Governo de Chavez, na sua grande maioria bens agro-alimentares. Mas, até ontem, menos de uma dezena de empresas tinham concretizado acordos com a PDVSA-Petróleos da Venezuela. Entre as empresas portuguesas envolvidas, a Sovena assegurou a venda de nove mil toneladas de óleo de soja ao longo dos próximos três meses. Jorge de Mello, responsável do grupo, reconhece que se trata de um valor ainda pequeno (um por cento da facturação global) e confirma que várias burocracias (como a certificação e a descrição técnica de produtos) atrasaram o início deste processo, abrangendo outras empresas nacionais. Mas é já "um primeiro passo para entrar num mercado ainda por explorar".
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