Com a legislatura a chegar ao fim, o país político que José Sócrates encontra não é aquele que planeou. O risco de perder o poder assusta os socialistas.
A um ano de três actos eleitorais que redefinirão quem vai ocupar toda a estrutura do poder político em Portugal, o primeiro-ministro, José Sócrates, encontra-se perante um país diverso daquele que esperava ter ao fim de três anos da sua governação, e que não previu no guião que elaborou para o seu consulado à frente do Governo.
O primeiro-ministro tinha tudo desenhado para criar condições de reedição do seu poder absoluto em 2009, mas a realidade é diversa; Sócrates não consegue controlar os imponderáveis que poderão resultar mesmo na sua derrota. Da forma como o país político evoluir no próximo ano dependerá o futuro de Sócrates, não só no que se refere à sua reeleição como primeiro-ministo, mas também na sua própria candidatura à chefia do Governo. Essa evolução depende de factores internos ao próprio PS e à governação e de factores externos, todos eles incontroláveis pelo primeiro-ministro.
É certo que muito do que de imponderável existe na situação política portuguesa tem pouco que ver com a própria política e até com o país. Ao contrário do que o primeiro-ministro esperava e todos os líderes mundiais previam, a crise económica é uma realidade incontornável. O disparar de preços dos alimentos, os valores exorbitantes que as taxas de juro atingem (com aumentos em média de 100 euros num ano no valor das prestações de pagamento de empréstimos à habitação na ordem dos 100 mil euros), a espiral de preços do petróleo (com empresas a comprarem já barris a mais de 200 dólares para assegurarem o stock do próximo ano) são três factores externos que o Governo não domina, mas que entram como uma onda gigante que destrói a praia que Sócrates estava a preparar para si e para o PS no final da legislatura.
Mas também há factores internos, quer nacionais, quer partidários, que poderão complicar os planos de uma segunda maioria absoluta de Sócrates. Factores que vão desde a nova liderança no PSD, que veio revitalizar a oposição de direita, até ao crescimento da oposição à esquerda, que, por mais que o primeiro-ministro desvalorize, não consegue travar, passando pelos problemas internos do PS, dos quais Manuel Alegre pode até ser o menor.
Isto para não falar sobre a sua relação com o Presidente da República. Quer Sócrates, quer Cavaco Silva têm insistido em fazer passar a imagem de relação cordial, mas esta tem as tensões próprias à natureza do poder de ambos os cargos e à personalidade e convicções dos seus protagonistas.
Será assim um ano de apreensão para José Sócrates e para os restantes actores políticos e cujo desfecho é impossível de prever.
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