(Público) 19.07.2008, Sérgio Aníbal
O ritmo da actividade económica em Portugal continuou a abrandar durante o passado mês de Junho, acentuando a tendência negativa iniciada na segunda metade de 2007 e fazendo com que a hipótese de ocorrência de uma recessão técnica já no segundo trimestre se torne agora mais provável.
Depois de, na quinta-feira, o Instituto Nacional de Estatística ter revelado a deterioração do indicador de clima económico em Junho, ontem foi a vez de o Banco de Portugal anunciar que, durante o mês passado, o indicador coincidente da actividade económica passou de uma variação homóloga de 0,5 para 0,1 por cento. No total do segundo trimestre, a variação homóloga foi de 0,5 por cento, o que representa um forte abrandamento face aos 1,6 por cento do primeiro trimestre.
É este valor que faz aumentar o receio de que possa ter ocorrido, no segundo trimestre, uma variação em cadeia do PIB negativa, o que, uma vez que no primeiro trimestre isso já aconteceu, colocaria o país em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de variação negativa do PIB).O indicador coincidente calculado pelo Banco de Portugal, procura, utilizando informação como a produção da indústria ou a venda de cimento, "adivinhar" qual será a evolução do PIB português, que só mais tarde é revelada pelo INE. Em geral, a tendência revelada pelo indicador coincidente é seguida pelo PIB. Se tal voltar a acontecer no segundo trimestre deste ano, poderemos vir a assistir a uma variação homóloga do PIB próxima dos 0,5 por cento, o que significaria um abrandamento face aos 0,9 por cento registados no primeiro trimestre e colocaria a variação em cadeia num valor próximo de zero. Ou seja, na fronteira da ocorrência de uma recessão técnica.
Os analistas dos departamentos de research de três bancos portugueses não fazem deste tipo de cenário a sua previsão central, traçando, na sua maioria, cenários mais positivos, mas assumem a existência de riscos.
Cristina Casalinho, do BPI, mantém a sua previsão de um crescimento em cadeia de 0,6 por cento. Salienta, sobretudo, o facto de o contributo externo poder ser agora mais positivo. No entanto, reconhece os sinais de quebra no consumo e investimento e admite que terá de "rever em baixa a previsão no futuro". "A descida do IVA pode ter levado as pessoas a adiarem a compra de bens como automóveis, plasmas ou computadores", assinala.
Rui Constantino, do Santander, diz que a sua equipa está a "trabalhar com uma previsão para o crescimento em cadeia no segundo trimestre de 0,4 por cento", destacando, contudo, a continuação da moderação no consumo e assinalando a grande volatilidade nos dados do investimento.
Carlos Andrade, do BES, é, para já, o mais pessimista. Diz que o segundo trimestre não será muito diferente do primeiro, antecipando "uma variação em cadeia do PIB muito reduzida ou nula". "A ameaça de uma pequena variação negativa existe", afirma, fazendo questão de dizer que "a ocorrência ou não de uma recessão técnica não altera o que é o desempenho actual da economia portuguesa".
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