domingo, 27 de julho de 2008

Santos da casa

É impressionante sermos obrigados a mostrar como destroiem o país, ou seja também a eles próprios, quando nos destroiem a nós, porque este último facto, por si, não seria aregumento com peso suficiente...
Que podemos fazer senão deixar as ilusões e encetarmos o combate pelo que é nosso, como por exemplo pelos financiamentos horizontais do QREN que nos foram surripiados e deslocados para o "efeito de difusão" que da capital irradiará para todo o país!... PB
(JN) 27.07.08
O povo diz que santos da casa não fazem milagres e assim parece ser também em matéria económica…
Quando, na segunda metade da década de 80, um grupo de economistas (nos quais me integrava) defendiam a necessidade de o país fazer uma forte aposta na melhoria das condições de produtividade e competitividade das chamadas indústrias tradicionais e de as considerar como vectores estratégicos do futuro - e, não por acaso, estas indústrias correspondiam ao perfil produtivo do Norte… - respondiam-nos com sorrisos tolerantes; é que Portugal iria era produzir, então como agora, bens de alta tecnologia mundial, satélites incluídos!
Depois, chamou-se Michael Porter para nos aconselhar. Após alguns meses de trabalho intenso e bem pago, lá saiu o veredicto: Portugal devia apostar seriamente na têxtil e no calçado, na cortiça, no vinho e no leite, no turismo, nas componentes automóveis. Dito por Porter, a coisa sempre tinha outra classe…
Vinte anos passados, tenho argumentado persistentemente - acompanhada por alguns, raros, colegas de profissão - que o país não arranca enquanto a economia do Norte não se relançar. Aguardo, desde o início do QREN, o anúncio de um sério e sincero programa de relançamento desse tipo, mas começo a recear que os apoios comunitários se esgotem sem que tal prioridade seja assumida; porque aí estão, de novo, os sorrisos tolerantes de quem sabe que "a malta lá de cima é sempre a mesma"…
A Comissão Europeia, através do comissário Almunia - esse mesmo que trata dos "castigos" do Pacto de Estabilidade e Crescimento e das estimativas de crescimento que tanto nos deprimem -, resolveu comemorar os 10 anos do Euro produzindo um extenso e interessante relatório que procura reflectir sobre os muitos sucessos e os alguns falhanços dessa experiência (EMU@10). Enquanto os sucessos são relativamente óbvios e conhecidos, os insucessos fazem sobressair o insuficiente crescimento da Zona Euro e o gravíssimo desequilíbrio que ele provoca em diversas regiões e países da União Europeia.
E, curiosamente, qual é o exemplo escolhido? Precisamente a evolução comparada entre Portugal e Espanha, referindo-se o nosso país como "(…) a grande desilusão entre o grupo [dos países da convergência]". Neste quadro, e depois das habituais considerações sobre os erros da política fiscal e orçamental, refere-se que eles "só explicam uma pequena parte [do problema]". Sublinham-se, então, as diferenças registadas ao nível das taxas de câmbio definidas no momento da adesão e traduzidas numa desvalorização da peseta em 30% e do escudo em apenas 12%, assim se tendo prejudicado todas as actividades exportadoras nacionais. De seguida, abordam-se as outras razões e afirma-se textualmente: "Na última década, o Norte de Portugal tem sido claramente a região com pior performance do país, quer em termos de produto per capita quer de comportamento do desemprego. A dimensão deste processo de ajustamento (inevitável) não teve paralelo em Espanha."
Em suma, aqui fica bem clara uma das principais razões seleccionadas para justificar a preocupante situação económica nacional. E, de novo, mais uma chancela externa para o que alguns vinham denunciando - será que ainda não chega?

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