Apelo à mudança de estilo, de políticas e de pessoas
PS: Manuel Alegre pede “sobressalto à esquerda”
11.07.2009 - 10h42 Lusa, PÚBLICO
Manuel Alegre pediu hoje uma mudança urgente de estilo, de políticas e de pessoas no PS e apelou a um “sobressalto à esquerda” num artigo de opinião publicado no semanário “Expresso”.O “histórico” socialista, deputado há 34 anos, confessa que gostaria de ter visto o partido governar de outra maneira e sublinhou a necessidade de este não esquecer a “sua” esquerda, pondo de lado um “discurso emprestado”.Apesar de pedir um pouco mais de esquerda, Alegre esclarece que continua a querer o PS, ainda que admita a perda de grande parte da sua base social.No entanto, lembra, ainda há tempo para o partido “acordar”. Ontem, em declarações à agência Lusa, Alegre disse que a “razão principal” para a sua saída da lista de deputados para as próximas legislativas foi a aprovação do Código do Trabalho pelo PS. “O Código do Trabalho é muito negativo”, contou no último dia de trabalhos normais da Assembleia da República – ainda há uma sessão plenária no dia 23 – antes do final da legislatura. O deputado contou que teve outros convites por parte da direcção do partido mas a sua resposta está dada: “Não posso estar a dizer isso [que não está disponível] de hora a hora. É ridículo. Já disse que não integro as listas, está feito”. Sobre as políticas do Governo de José Sócrates e o futuro do PS, Alegre comentou que se achasse que o partido “estava a ir na direcção certa com certeza que era candidato a deputado”.
PS: Manuel Alegre pede “sobressalto à esquerda”
11.07.2009 - 10h42 Lusa, PÚBLICO
Manuel Alegre pediu hoje uma mudança urgente de estilo, de políticas e de pessoas no PS e apelou a um “sobressalto à esquerda” num artigo de opinião publicado no semanário “Expresso”.O “histórico” socialista, deputado há 34 anos, confessa que gostaria de ter visto o partido governar de outra maneira e sublinhou a necessidade de este não esquecer a “sua” esquerda, pondo de lado um “discurso emprestado”.Apesar de pedir um pouco mais de esquerda, Alegre esclarece que continua a querer o PS, ainda que admita a perda de grande parte da sua base social.No entanto, lembra, ainda há tempo para o partido “acordar”. Ontem, em declarações à agência Lusa, Alegre disse que a “razão principal” para a sua saída da lista de deputados para as próximas legislativas foi a aprovação do Código do Trabalho pelo PS. “O Código do Trabalho é muito negativo”, contou no último dia de trabalhos normais da Assembleia da República – ainda há uma sessão plenária no dia 23 – antes do final da legislatura. O deputado contou que teve outros convites por parte da direcção do partido mas a sua resposta está dada: “Não posso estar a dizer isso [que não está disponível] de hora a hora. É ridículo. Já disse que não integro as listas, está feito”. Sobre as políticas do Governo de José Sócrates e o futuro do PS, Alegre comentou que se achasse que o partido “estava a ir na direcção certa com certeza que era candidato a deputado”.
3 comentários:
"Seria preciso que os socialistas acordassem do seu torpor", diz Manuel Alegre
Luís Faustino
Em nenhum outro país europeu a esquerda é eleitoralmente tão forte como em Portugal. Mas essa força não serve para grande coisa. Sobretudo não serve para governar, seja em coligação seja através de acordos pontuais. Em caso de maioria relativa do maior partido da esquerda, a governabilidade só é garantida à direita, quer através do bloco central quer com o apoio do CDS. Nem o PCP e o BE estão disponíveis nem o PS quer governar com qualquer deles. As nossas esquerdas parecem ter como desígnio principal excluírem-se umas às outras. É uma das originalidades portuguesas.
Depois da queda do muro de Berlim, os partidos comunistas quase se evaporaram. Com a honrosa excepção do PCP, não só pelo seu papel na luta antifascista, mas também devido ao facto de Álvaro Cunhal ter preservado a ideologia tradicional do partido, fixando assim o núcleo essencial do seu eleitorado.
Artigo publicado na edição impressa do Expresso de 11 de Julho de 2009
1ª- parte
Esperava-se então que fosse a hora do socialismo democrático. Mas o que veio foi a globalização neoliberal. Com os socialistas na defensiva ou ideologicamente colonizados. Essa é talvez a razão pela qual a nova crise global do capitalismo financeiro beneficiou a direita e não a esquerda. Parafraseando Saramago, para quê votar à esquerda se não há esquerda? Como projecto de governo, não há. Se não mudar, o socialismo europeu corre o risco de ter um destino semelhante ao do movimento comunista. Se a esquerda de poder imita o poder da direita e as outras continuam a sonhar com os amanhãs que já não cantam, se, no seu conjunto, a esquerda deixa de representar um horizonte visível de esperança, os eleitores viram-se para outro lado e para a ilusão da segurança que, em época de crise, a direita oferece. Pelo menos a direita sabe o quer: quer poder. E não tem os pruridos da esquerda, une-se para o conquistar.
As próximas eleições serão marcadas por uma ofensiva ideológica da direita. O que está em causa é o consenso constitucional aprovado por larga maioria, incluindo o PSD, sobre os direitos sociais (escola pública, universalidade do acesso à saúde, segurança social pública). A líder do PSD anuncia o fim de um ciclo e de uma concepção da democracia em que direitos políticos e direitos sociais eram considerados inseparáveis. Com o absurdo de o PSD partir para as eleições com a bandeira da ideologia que está na origem da actual crise mundial. Sabem-se os objectivos: papel do Estado, protecção social, direito do trabalho.
Os resultados desta receita estão à vista em toda a parte: desregulação do mercado entregue a si mesmo, busca sem freio do lucro pelo lucro com total indiferença pelos custos sociais, ausência de ética e transparência. Na hora do colapso do neoliberalismo, MFL faz o discurso ultraliberal do Estado mínimo. À força de tanto querer rasgar, acabará por rasgar o horizonte social do 25 de Abril, consagrado na Constituição.
E por isso impunha-se um sobressalto. Seria preciso que os socialistas acordassem do seu torpor e que dentro do PS se ouvissem vozes a exigir uma mudança. Não só de estilo, mas de pessoas e de políticas. Na educação, no trabalho (cujo Código é imperioso rever), na Justiça, na função pública, na relação com os sindicatos, na afirmação do primado da política e na urgência de libertar o Estado de interesses que o condicionam. Seria preciso que o PS fosse capaz de se reencontrar consigo mesmo, com os seus valores e com o seu eleitorado. E que as outras forças de esquerda, sem abdicarem das suas posições próprias, definissem com clareza o adversário principal e se interrogassem sobre as consequências de um eventual governo de MFL. Se a direita governar, o povo da esquerda será o principal perdedor, independentemente da votação nos partidos que dele se reclamam.
do Expresso de 11 de Julho de 2009
2ª.parte
Dir-me-ão que a maioria PS não governou à esquerda. Eu gostaria que tivesse governado de outra maneira. Mas também sei que uma maioria de direita jamais deixaria passar o referendo sobre a IVG e a lei do divórcio. Sei que com um governo de MFL o SNS será praticamente desmantelado e o papel do Estado, como ela já afirmou, "reduzido ao mínimo indispensável".
Como socialista, não me compete dizer ao PCP e ao BE o que devem fazer. Gostaria que uma maioria de esquerda fosse capaz de gerar soluções políticas alternativas. Mas não tenho ilusões. Tal só será possível com uma ruptura de cada uma das esquerdas consigo mesma. O que está longe de acontecer.
Aos socialistas digo que ainda há tempo. Ainda é possível vencer o PSD. Mas não será com certeza ouvindo opiniões à direita e esquecendo a sua própria esquerda. Nas europeias, não foi o PSD que teve um aumento significativo de votação, foi o PS que perdeu grande parte da sua base social, a ponto de, pela primeira vez, ter ficado aquém de um milhão de votos. Várias vezes falei de um buraco negro na esquerda. A soma da abstenção com os resultados do BE e do PCP mostram que esse buraco se situa na área do PS. Não é crível que personalidades de direita consigam recuperar para o PS o eleitorado que este perdeu para a abstenção e para a esquerda. Os socialistas não podem ter um discurso emprestado. Não se combate o liberalismo ultra com o liberalismo suave. Nem se vence o PSD com ex-ideólogos do PSD. Ainda é possível dar a volta. Mas algo tem de acontecer. Apesar dos erros, a bandeira do PS não está no chão. Mais política e menos marketing. Mais socialistas e menos figurantes. Um pouco mais de esquerda. Ou, como diria Mário Cesariny, "um acordar".
Para que um dia destes não estejamos a perguntar-nos como é que se perdeu mais uma oportunidade e como é que um país maioritariamente de esquerda pode acabar uma vez mais a ser governado pela direita.
Artigo publicado na edição impressa do Expresso de 11 de Julho de 2009
3ª. e última parte
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