06.07.2008, Luciano Alvarez (Público)
O Presidente acha que é preciso repensar tudo em matéria de obras públicas. O primeiro-ministro insiste em levá-las por diante. A cooperação estratégica está ameaçada de morte.
Cavaco Silva não está satisfeito com a chamada cooperação estratégica entre o Governo e a Presidência da República e as várias declarações que fez ao longo da última sexta-feira foram, acima de tudo, alertas a José Sócrates para a insatisfação do Chefe de Estado com alguns comportamentos políticos do primeiro-ministro. E a matéria que está a contribuir para esta deterioração das relações não podia ser mais delicada: obras públicas.
O Presidente acha que é preciso repensar tudo em matéria de obras públicas. O primeiro-ministro insiste em levá-las por diante. A cooperação estratégica está ameaçada de morte.
Cavaco Silva não está satisfeito com a chamada cooperação estratégica entre o Governo e a Presidência da República e as várias declarações que fez ao longo da última sexta-feira foram, acima de tudo, alertas a José Sócrates para a insatisfação do Chefe de Estado com alguns comportamentos políticos do primeiro-ministro. E a matéria que está a contribuir para esta deterioração das relações não podia ser mais delicada: obras públicas.
O actual Presidente da República não diz nada por acaso. E não foi por acaso que escolheu o dia seguinte à entrevista do primeiro-ministro à RTP para falar de obras públicas, dando o exemplo de uma autarquia que pedia pequenas obras em vez de grandes investimentos. Mais tarde, alertou para a "difícil situação" do país e para o facto de o "endividamento poder atingir situações insustentáveis".
Como se não bastasse, ontem o semanário Sol noticiava que o Chefe de Estado pediu há dois meses informações ao primeiro-ministro sobre os estudos financeiros das novas concessões rodoviárias e até agora não obteve qualquer resposta. O PÚBLICO confirmou esta informação e sabe que é com surpresa e apreensão que Cavaco Silva vê serem anunciadas sucessivamente novas obras, numa altura em que o país, como salientou o Presidente, está numa "situação difícil". Aliás, a divulgação desta negação do Governo em prestar informações ao Presidente da República é um sinal claro da insatisfação de Cavaco Silva.
Em Belém nada acontece por acaso."Todos nós gostaríamos que o desempenho [económico do país] fosse melhor. Vivemos uma situação de afastamento do desenvolvimento médio da União Europeia há bastantes anos, mas temos que ter esperança que no futuro a situação será diferente. (...) É preciso trabalho, muito trabalho, políticas correctas, muito correctas", referiu Cavaco Silva, em Fronteira, no distrito de Portalegre, na sexta-feira.
O PÚBLICO sabe que o Chefe de Estado fartou-se de esperar por informações que o Governo não lhe dá sobre os custos das novas estradas e resolveu passar à acção. Fê-lo de uma forma subtil, mas muito clara. Foi buscar o exemplo dos membros da Assembleia Municipal de Portalegre o terem alertado para a necessidade de construção de duas vulgares estradas, em vez de pedirem auto-estradas, para lançar uma clara mensagem ao Governo: "Apenas solicitaram vias de comunicação que têm um custo relativamente pequeno quando comparado com obras muito avultadas que têm vindo a ser anunciadas no nosso país (...) determinados pequenos investimentos têm uma rentabilidade muito mais elevada do que grandes investimentos."Com isto, Cavaco Silva quis claramente dizer que o Governo tem de repensar os cerca de 3000 quilómetros de rodovias, a maioria sem portagens, que vai concessionar a privados e que ainda não revelou quais serão os encargos para o Estado.
O Chefe de Estado tem também dúvidas em relação ao projecto TGV, numa altura em que o país vive uma difícil situação económica. Tal como ontem lembrava o Sol, há dois anos, numa viagem que fez entre Lisboa e Albufeira, Cavaco Silva alertou para a necessidade de se fazer "uma profunda análise custo/beneficio" dos grandes investimentos públicos. Na altura, ainda que indirectamente, o Chefe de Estado referia-se ao TGV. Hoje, o Presidente volta ao assunto mas visa as obras públicas em geral. Todas.
O PÚBLICO sabe que Cavaco tem muitas reservas sobre as obras, que também têm sido o cavalo-de-batalha de Ferreira Leite desde que foi eleita líder do PSD, enquanto o Governo insiste diariamente na realização dessas obras, o que faz adivinhar dias ainda difíceis nas relações dos inquilinos de Belém e São Bento. Até porque Cavaco Silva entende que uma das suas principais funções como Presidente da República é cumprir o seu dever de fiscalização e acha, segundo o PÚLICO apurou, que, em matéria de obras públicas, o Governo não lhe está a fornecer os dados para efectuar de uma forma correcta esse seu dever de fiscalização.
1 comentário:
O Professor Cavaco abriu a campanha para 2º. mandato, porque sabe que desta vez não há TABU de 10 anos ara fazer esquecer os 10 anos de governo. A esquerda não lhe vai estender a passadeira vermelha e o PS tem de abrir os lhos e s ouvidos.
A seguir às entrevistas estas declaraç~es foram bem pensadas e serviram na maior Ferreira Leite. Branquearam o desastre televisivo da nova lider do PSD.
Se os comentadores como Marcelo, Pulido Valente, Pacheco Pereira, e outros que tais comentam a pensar no PSD e na nova lider,o PR não pode ou não deve fazê-lo.
Mas o 2º. mandato é mais importante para as ambições pessoais.
E com isto tudo vemos PS mudo, escondido e assustado.
Assim se revela que o PS não existe e que as Federações como a do orto não têm liderança, nem ideias.
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