domingo, 6 de julho de 2008

José Luís Carneiro diz que o PS-Porto não pode resumir-se a apoiar o Governo

Diz e diz bem. Agora dizendo o que diz e bem, se também parece que diz que apoiará a recandidatura do actual presidente, ele lá saberá se sabe o que diz e por que o dirá. Há só uma coisa que não dá para ouvir por parte dos que não tiveram ocasião para lutar pelo derrube da ditadura: é identificar democracia com divisão, eleição com bipolarização e consequente prejuízo. O país ouviu essa conversa durante quase cinquenta anos, para justificar o partido único que não seria partido (União nacional) e a ditadura. E o Zé Luís que já leccionou na área das Relações Internacionais e até é possuidor de um mestrado nesse campo, deveria sabê-lo e abster-se de usar uma argumento que, não convencendo ninguém, é profundamente anti-democrático. Ademais, se as eleições são em Outubro e não em Maio como deveriam ser, a culpa não é nossa, mas a decisão de pôr os presidentes de Federação a usurparem o poder durante 6 meses e de encostar os Congressos Distritais ao Nacional e portanto às eleições 2009, teve a defesa pública do do Porto, ou a ordem não viesse de "cima", que se fartou de defender a decisão do Secretariado dizendo que era um critério político que subjugaria, no seu entendimento, o jurídico (a que chama administrativo). O meu amigo Zé Luís considerando a necessidade de uma alternativa ao actual presidente ponderou durante longo tempo a sua disposição para avançar para a luta e acabou por recuar pelos motivos que conhecerá, o que é uma pena pois em vez de uma bipolarização teríamos uma triangulação, como aliás ainda podemos vir a ter, mas também é uma pena por não nos esclarecer as razões porque o fez. Estamos convencidos de que, as eleições vão forçar o debate necessário que nunca existiu nestes dois anos de lista única, tal como estamos convencidos de que, como Presidente da Federação, corresponderemos aos desejos dos que, como José Luís Carneiro, são tão críticos da passividade e da inépcia política da actual liderança de fim-de-semana, que está à frente da Fedração Distrital do Porto do PS, conseguindo "uma afirmação política do distrito que vá ao encontro da sua base social de apoio", não se resumindo "à dimensão de apoiar o Governo", fazendo do partido "um espaço de debate crítico, reflexivo e que vá de encontro às realidades sociais" e que "seja capaz de monitorizar os efeitos que a reforma do Governo está a ter no tecido social da região" como tão bem diz o presidente da Cãmara de Baião.
Não diríamos melhor: cada um que tire, pois, as conclusões.
06.07.2008, (Público) Filomena Fontes
O presidente da Câmara de Baião, José Luís Carneiro, não vai concorrer à liderança do PS-Porto, cujas eleições federativas estão marcadas para Outubro e para as quais se prevê um duelo entre o actual líder, Renato Sampaio, e o ex-deputado Pedro Baptista.
"Não sou candidato. Estou convencido que a minha candidatura, ocorrendo numa das mais importantes federações do país e pelos apoios me foram manifestados, iria provocar uma bipolarização, que poderia causar prejuízos ao PS", disse ao PÚBLICO, defendendo, no entanto, que o partido deve assumir, no futuro, "uma afirmação política no distrito que vá ao encontro da sua base social de apoio".
As palavras do autarca encerram críticas, veladas, à liderança de Renato Sampaio, acusada por muitos de subordinação total às orientações de José Sócrates, sem deixar espaço para uma autonomia e reflexão crítica do PS-Porto. Sem alinhar pelos mais críticos, José Luís Carneiro retira-se do confronto, mas vai avisando que os socialistas portuenses têm de mudar de vida, até para benefício do próprio Governo. "Apoio a recandidatura de Renato Sampaio, mas entendo que a federação tem de dar um salto qualitativo e não se pode resumir à dimensão de apoiar o Governo. O partido deve ser um espaço de debate crítico, reflexivo e que vá de encontro às realidades sociais", defende. A necessidade de se fomentar um debate interno em torno de dossiers estruturantes para a região - como é o caso dos fundos comunitários canalizados pelo Quadro de Referência Estratégica Nacional - e de o partido se abrir, são prioridades que, segundo José Luís Carneiro, a futura direcção do PS-Porto terá de ter em conta. "É muito importante que a federação seja capaz de monitorizar os efeitos que as reformas do Governo estão a ter no tecido social da região", acrescenta.
Interesses ilegítimos
Desafiado por algumas concelhias a protagonizar uma alternativa à mais que provável recandidatura de Renato Sampaio, o autarca confirma que já em 2007 foi "auscultado, várias vezes, por várias estruturas, mas concluiu que "alguns interesses eram ilegítimos". "Havia nalguns sectores boas intenções e bons objectivos de mudança, mas também percebi que havia quem quisesse pôr em causa a boa relação pessoal e política com a actual direcção federativa. Esses interesses não eram os meus", afirma. Na decisão de não avançar pesou também o calendário eleitoral do PS e dos três actos eleitorais a que o país vai ser chamado no próximo ano. "O calendário eleitoral de alguma forma beneficia a unidade interna, mas dificulta a emergência de uma alternativa", ajuíza, lembrando que os actuais dirigentes estão já a desenvolver contactos com candidatos e muito dificilmente a estratégia que está a ser seguida poderia voltar à estaca zero. José Luís Carneiro alerta ainda para a importância das concelhias serem ouvidas por igual no processo de escolha dos candidatos. "Não podemos defender uma coisa para Matosinhos e outra para o Porto", afirma. Mas também diz, numa indirecta à fractura que se desenha em Valongo, que o PS não deve retirar a sua confiança política a candidatos que escolheu e que, embora tenham perdido, desenvolveram o seu trabalho ao longo do mandato.

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